Usar uma máscara facial altera nossas lembranças
Ainda que não sejamos consciente disso, nosso corpo nos ajuda a pensar e recordar as coisas que fazemos. Em sucessivos experimentos, os neurocientistas comprovaram que podemos esquecer algo concreto pelo mero fato de atravessar uma porta, ou que se injetamos um pouco de Botox na glabela temos mais dificuldade para recuperar determinadas expressões emocionais. Tudo isto acontece porque nosso corpo, e nossa cara, está reproduzindo de alguma maneira o que sentimos, como quando sorrimos se algo nos agrada ou nos retesamos se nos causa preocupação.
Para aprofundar no conhecimento deste fenômeno, a neurocientista Jenny-Charlotte Baumeister, pesquisadora do centro SISSA de Trieste (Itália), decidiu provar o que ocorre com nossa memória quando não podemos gesticular nem mover um músculo do rosto. Ela provou primeiro com máscaras de gesso, mas eram muito rígidas e incômodas, de modo que terminou escolhendo uma máscara facial de algas vendida como produto cosmético e que imobiliza por completo o rosto da pessoa.
Para o estudo, publicado na revista Acta Psychologica sob o título "When the mask falls: The role of facial motor resonance in memory for emotional language", ela realizou uma pesquisa com 80 voluntários, todos italianos, aos quais disseram que participariam num estudo sobre a condutividade da pele. Numa primeira fase, os voluntários sentaram-se diante da tela de um computador no qual iam aparecendo 144 palavras e deviam pressionar um botão quando considerassem que a palavra tinha a ver com a emoção, exemplos: medo, casa, alegria...
Depois de relaxar durante uma hora os voluntários voltavam ao monitor e tinham uma prova surpresa. Voltavam a colocar um monte de palavras e deviam decidir quais tinham visto no teste anterior (metade eram novas). Para se assegurar dos resultados, uma parte dos voluntários usavam uma máscara de controle, com um material que sim permitia os movimentos faciais, de modo que os cientistas podiam descartar que efeitos se deviam ao mero fato de usar algo no rosto. Os voluntários também usavam máscaras, às vezes, no primeiro teste, no segundo ou nos dois.
O resultado indica que na primeira parte do experimento os voluntários que usavam a máscara rígida eram menos hábeis à hora de assinalar se uma palavra tinha conteúdo emocional. Na segunda parte do experimento, todos recordaram as palavras neutras, mas os que tinham usado a máscara na primeira parte eram significativamente piores recordando palavras emocionais. De alguma maneira, concluem os autores do trabalho, o fato de impedir os movimentos faciais piora a capacidade de lembrar as palavras associadas a uma emoção.
Para Jenny-Charlotte os resultados são interessantes, mas não surpreendentes. De alguma maneira, somos bons recordando coisas que ativam nossas emoções e vice-versa. Sua intenção agora é conhecer melhor os mecanismos neuronais que conduzem a esta resposta.
Via | Discover.
Notícias relacionadas:
Comentários
Nenhum comentário ainda!
Deixe um comentário sobre o artigo
Comentários devem ser aprovados antes de serem publicados. Obrigado!