Se há um gato famoso no campo da Física é o gato de Schrödinger: um felino que nunca existiu e que serviu para o famoso experimento imaginário do físico austríaco Erwin Schrödinger. Mas o gato que falamos nesse artigo sim existiu e seu nome era Chester.

O físico e matemático americano Jack H. Hetherington da Universidade do Michigan escreveu um artigo relativo a suas recentes investigações com o Hélio. Antes de enviar à revista onde ia ser publicado, a Physical Review Letters, pediu a um físico amigo seu para que desse uma olhada. Seu colega logo advertiu que o artigo estava escrito na primeira pessoa do plural (nós, nosso...) e os editores da revista não iam gostar nada esse detalhe já que estava assinado por um único autor.

De modo que, ante a possibilidade de ter que reescrever todo o artigo em sua máquina de escrever -recordemos que não existiam os maravilhosos processadores de texto como este com o qual escrevo, nem ainda os computadores pessoais-, decidiu tomar o caminho mais rápido: buscar outro autor que assinasse o artigo com ele. Mas logo descobriu que era difícil encontrar um colega de prestígio que se prestasse a assinar um artigo já escrito e sem poder modificar nem uma vírgula. Pensou, pensou e... decidiu inventar o físico que assinaria como coautor: F.D.C. Willard.

Realmente, F.D.C. Willard existia, só que não era um físico de prestígio senão seu gato siamês Chester. Como alguns de seus amigos conheciam o nome do bichano, teve que camuflá-lo sob o acrônimo F.D.C. (Felis Domesticus Chester) e o sobrenome Willard (nome do pai de Chester). Em 24 de novembro de 1975 a revista Physical Review Letters publicava o artigo “Two, Three and Four Atom Exchange Effects in bcc HE", assinado pelos físicos da Universidade de Michigan J.H. Hetherington e F.D.C Willard.

As pesquisas de Hetherington, e seu gato, fizeram verdadeiro sucesso e a revista francesa La Recherche pediu-lhe outro artigo relativo a seus trabalhos com o Hélio. Em setembro de 1980 publicava-se o artigo “L'hélium 3 solide: um antiferromagnétique nucléaire” assinado unicamente por F.D.C. Willard.

Hetherington teve que revelar a verdadeira identidade de seu colega quando um jornalista se deslocou à Universidade para fazer uma entrevista com os professores Hetherington e Willard. Os editores das revistas não acharam muita graça e os colegas de Hetherington levaram a coisa na brincadeira quando receberam uma cópia do artigo com a assinatura de Chester: suas impressões. Hetherington mais tarde recordou:

- "A história já foi contada muitas vezes e minha esposa pode acrescentar que ela dorme com os dois autores!"

O melhor de tudo é que seguramente há muitos artigos circulando pelo mundo nos quais alguma de suas fontes é o artigo de um gato.

Via | Futility Closet.

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