A moral humana pode ser rastreada evolutivamente? (Sobre o humanismo nos primatas)
A moral humana não deveria buscar nos legados religiosos nem filosóficos das culturas antigas: segundo o primatologista Frans de Waal e seu novo livro, "O bonobo e o ateu", a moral como diretora do comportamento social está muito presente nos primatas, que tomam decisões sobre hierarquias e comportamentos para assegurar a sobrevivência da ordem da comunidade, e não a uma imposição divina ou filosófica.
Segundo Frans, a reciprocidade, a justiça, a empatia e a compaixão são comportamentos presentes nos símios, segundo dois tipos de moral: a que é "um para um" (como um indivíduo espera ser tratado segundo seu grau hierárquico; uma classe de consciência dos próprios direitos na ordem social), e o de "preocupação social", que tem a ver com o sentido de harmonia da comunidade ou grupo.
Para o primeiro caso, os símios podem mostrar gratidão em frente a seus pares se estes reconhecem seu direito ao alimento, ao acasalamento e a outras formas de se relacionar entre eles, assim como embarcar em sangrentas vendetas se tais direitos forem negados.
Por outra parte, e ainda que de forma rudimentar, os símios demonstrariam, segundo Frans, certas formas de reconhecimento social que permitiriam perpetuar certa estabilidade social e prevenir conflitos, como compartilhar sua comida, tranqüilizar seus colegas em situações agoniantes e inclusive fazerem intervenções em conflitos onde o indivíduo não está diretamente envolvido. Para o pesquisador estes comportamentos não têm a ver sobre se os símios são conscientes ou não, senão de que a estrutura moral das sociedades humanas está primeiramente dada como parte do "pacote evolutivo", e não, como se afirma desde a filosofia, como uma sorte de engenharia do comportamento social.
- "Os seres humanos temos todo tipo de interesses egoístas e conflitos individuais que precisamos resolver para conseguir uma sociedade cooperativa. Por isso é que temos moral, e as abelhas ou formigas não", disse Frans, para quem pensa que "o homem é lobo do homem" é bastante injusto. Tanto para os lobos, que são animais bastante cooperativos, quanto para a humanidade que também é bastante mais cooperativa e empática que costuma se dizer.
A poucos dias de seu lançamento, "O bonobo e o ateu" já é alvo de numerosos ataques: os religiosos, claro, mas desta vez também a dos não-religiosos. Ateus como PZ Myers e AC Grayling parecem incomodados de que Frans não "demonize" a religião, além de que afirme que o ateísmo pode se converter em um dogma tão forte quanto a religião organizada.
- "Se deus existe?", conclui Frans, "É uma pergunta interessante, mas não é a pergunta de meu livro e também não é uma pergunta que um cientista vá se preocupar em responder".
Via | BBC.
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