Nosso idioma pode determinar a maneira que consideramos o futuro?
Parece até certo ponto óbvio, que nossa língua materna molda ou inclusive determina a maneira em que pensamos. As singularidades de cada idioma convertem-nos em obstáculos que a mente aprende a sortear, realizando manobras que não parecem as mesmas para alguém que nasce em um meio linguístico específico e não em outro.
Um exemplo aplicado de que o idioma pode ser determinante em nossas vidas é a estrutura linguística mais transparente (matematicamente falando) dos idiomas orientais em relação aos ocidentais. Em Português diz-se: dezesseis, dezessete, dezoito; mas também falamos onze, doze, treze, que não tem nenhuma lógica linguística se compararmos aos chineses que dizem dezum (11), dezdois (12), doisdezquatro (24). Isso torna muito mais fácil para eles somar 46+33 (quatrodezseis + trêsdeztrês = setedeznove).
Não precisam visualizar nada: já tem diante de si a equação necessária, encaixada na oração.
Mas para além dos envolvimentos deste fenômeno em desenvolvimentos muito assinalados -na filosofia, gênero literário, expressões religiosas, música, etc.- um pesquisador de Yale perguntou-se recentemente se nosso idioma nativo afeta diretamente a maneira em que percebemos o futuro.
Ao advertir as diferentes maneiras em que cada idioma percebe o futuro, Keith Chen se perguntou pelo efeito que o tempo gramatical do futuro tem no comportamento de cada cultura orientada exatamente para o futuro.
Chen parte do princípio de que alguns idiomas têm regras muito claras para a conjugação do futuro, em alguns distinguindo inclusive entre vários tipos; em Francês, por exemplo, existem o futuro simples, o anterior e o "próximo". Com isto em mente, o pesquisador propõe que as pessoas nascidas em uma língua com fortes referências ao tempo futuro são mais proclives a tomar más decisões ao planejar o futuro, o que acarreta problemas tão variados como altos índices de obesidade, dívidas, tabagismo, alcoolismo, etc.
A ideia é atraente, ainda que talvez imprecisa. Alguns a rebatem, sobretudo os puristas defensores de Línguas, dizendo que não é tão fácil classificar os idiomas segundo suas referências ao tempo futuro. Dizem que as correlações feitas por Chen são um tanto arbitrárias e não necessariamente verdadeiras.
Seja como for, a intenção de Chen não é nada errada: a linguagem forma-nos e programa-nos tanto individual como socialmente, ainda que quase sempre nem nos demos conta disso.
Via | io9.
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