Ken Uston, o rei do Pac-Man

LuisaoCS

Ken Uston: o homem que dominou totalmente o videojogo Pac-Man

É curioso como descobri este personagem. Foi enquanto dirigia de noite entre Laguna e Joinville: no rádio ouvi por casualidade um fragmento de sua história, justo quando diziam que Ken Uston dominou o Pac-Man, mas que também viveu uma história que Hollywood poderia adaptar com grande sucesso: fraudes, disfarces extravagantes, dinheiro, jogos...

Quando cheguei em casa, já tinha esquecido seu nome. E dias depois, inclusive os detalhes de sua biografia. Mas ainda seguia pensando nele: talvez poderia incluí-lo como personagem em alguma de minhas histórias? Em qualquer caso, algum dia tentaria averiguar mais sobre ele.

A questão é que a casualidade me trouxe de novo a biografia de Uston, justo sobre minhas mãos, em forma de presente de uma grande amiga. Um livro em inglês manuseado pelas mãos do tempo, cujo título poderia ser traduzido assim:


Dominando o Pac-Man. Padrões, truques e estratégias para dobrar, triplicar e até quadruplicar sua pontuação no jogo que está arrasando o país.

O livro que foi escrito por Ken Uston, um pseudônimo para Kenneth Senzo Usui, um estadunidense de pai japonês e mãe austríaca que possuía um quociente de inteligência de 169. Uma mente brilhante que se converteu em um gênio matemático precoce, sendo o aluno mais jovem da Universidade de Yale.

Por casualidades do destino (como as que me levaram a descobrir sua biografia), Uston se deu conta de que possuía uma extraordinária habilidade para contar cartas no jogo de Blackjack. Na década de setenta, depois de visitar vários cassinos em Las Vegas, obteve ganhos estimados em centenas de milhares de dólares.

Mais tarde, Uston formou uma equipe de jogadores dirigida por intercomunicadores e arrasaram em Atlantic City, embolsando milhões de dólares. Tanto é assim, que os cassinos de meio mundo se aliaram para proibir a entrada de Uston em suas instalações.

Uston processou-os nos tribunais, dizendo que nenhum cassino estava legitimado para vetar o acesso a um cliente em relação a suas capacidades mentais. Graças a este processo, o Tribunal de New Jersey concluiu que a contagem de cartas, ao ser unicamente uma habilidade que emergia da mente humana, sem intervenção de dispositivos eletrônicos ou de outra ajuda, não podia ser proibido pelos donos dos cassinos.

Isso obrigou, então, a endurecer as condições daquele jogo de naipes, e também a seguir de perto a imagem de Uston. Mas ele continuou quebrando a banca de todos os cassinos que pisava, e para isso começou a agir sozinho, recorrendo a toda classe de disfarces bizarros, imitando sotaques, gestos, tics nervosos, como um profissional da interpretação.

Paralelamente, depois de ser considerado o melhor jogador de Blackjack da história, começou a ficar fascinado pelos primeiros videogames que apareceram no mercado, como o Pong. Em 1980 já era um especialista no Space Invaders, do qual escreveu um livro onde oferecia estratégias para obter a máxima pontuação.

Mas, sem dúvida, o videogame onde conseguiu aplicar melhor suas prodigiosas habilidades mentais foi Pac-Man, onde chegou mais longe que qualquer ser humano, desentranhando os segredos eletrônicos que escondia aquela máquina. Acabou decifrando, inclusive, os padrões de comportamento dos diferentes fantasmas ou monstros: o vermelho, ao que apelidava Sombra; o rosa, que chamava Rápido; o azul, que era o Tímido e o laranja, Brincalhão.

Seus olhos efetuaram um diagrama mental daquele tabuleiro de pixels coberto pelos 240 pontos que Pac-Man devia ingerir, calibrando a importância de cada ponto especial de energia, que (nas telas primigênias) convertiam o Pac-Man em um predador de cor azul escuro, como se tivesse tomado alguma beberagem do doutor Jeckyll.

Mas chegou um momento em que já não conseguia ir mais longe no jogo. Parecia existir um topo máximo imposto pela programação da máquina. Uston esteve a ponto de render-se. Até que em São Francisco cruzou com dois rapazes chineses, Tommy e Raymond, que confidenciaram alguns segredos para obter uma pontuação superlativa no Pac-Man. Após receber as lições daqueles dois enigmáticos personagens, Uston superou sua própria marca e, em apenas quatro dias, escreveu o livro que agora permanece em minha estante.

Talvez seja uma grande viagem, mas fico feliz em imaginar que Tommy e Raymond, quando toparam com Uston, vestiam camisetas negras com letras brancas na quais era possível ler a conjectura de Poincaré sobre a existência de variedades tridimensionais sem margens com um grupo de homotopia nulo que não fossem homeomorfos à esfera em quatro dimensões. Quem é que sabe?!?


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