O homem que pintava todos os ângulos de seu povoado após trinta anos sem vê-lo
Prosopagnosia é a incapacidade para recordar e reconhecer rostos e lugares. Todo o contrário, é o que aconteceu com Franco Magnani que é capaz de recordar com riqueza de detalhes cada ângulo de sua cidade natal e suas paisagens, um lugar que ele não vê por trinta anos. A obsessão pela lembrança de seu povoado impulsionou-o a pintar suas visões em infinidade de pinturas, sendo reconhecido por sua particular habilidade, como o pintor da memória.
Franco Magnani nasceu no ano 1934 em Pontito, Itália, uma cidade toscana próxima de Florência. Pontito é um povoado isolado no alto de montanhas arborizadas, onde Franco teve uma vida aprazível até o ano de 1942, quando seu pai morreu em um acidente bem no começo da guerra. Uma vez retornada a calma depois da guerra, o trabalho escasseou e Franco decidiu deixar sua cidade natal. Em 1965, chegou a Califórnia para cumprir seu sonho de ver a Golden Gate. Já radicado definitivamente, depois de alguns meses, ficou doente.
Desde então, começou a ter sonhos assombrosamente vívidos de seu povoado natal. Tanto, que começou a experimentar seus sonhos e lembranças como um chamado a pintura das cenas de sua infância. Assim, começou uma obra prolífica de pinturas advindas de sua memória, onde as casas, as ruas e os arredores de Pontito foram pintados com perfeição.
A compenetração com o espaço a ser retratado era tal, que Franco virava a cabeça em diferentes direções para variar os ângulos desde onde pintava, como se estivesse transportado a outro espaço para reproduzir lugares que não via há anos.
Seus quadros são cheios de casas de pedra, arcos, paisagens de colinas toscanas, e antigas ruínas etruscas. O curioso é que pintou centenas, e cada um deles, tem um grau de detalhes tão similar à visão real, que resultam espantosos.
Em uma exposição no ano 1989, as pinturas de Franco foram expostas junto a fotografias dos mesmos locais retratados de enorme similitude. Seus quadros chegaram a exposições em Toscana e mostras itinerantes pelos Estados Unidos e Canadá.
Magnani chamou a atenção do neurologista Oliver Sacks, que incluiu sua história no livro "Um antropólogo em Marte", que aborda sete casos médicos de pessoas com doenças neurológicas, como o autismo ou a síndrome de Tourette.
Seu caso, recorda em parte a história de Stephen Wiltshire, também conhecido como a câmera humana e diagnosticado com autismo. Wiltshire possui uma espantosa habilidade para desenhar uma paisagem desde uma óptica arquitetônica e urbanística com extremos detalhes depois de ter visto o panorama uma única vez por um breve período de tempo.
Magnani, por sua vez, depois da doença que padece em São Francisco, ficou preso na perfeição de suas lembranças de Pontito. No entanto, sua memória não era homogênea, e não foi capaz de recordar com tal precisão outras imagens ou locais. Transformou-se de fato em um artista obcecado com seu povoado natal, que construiu um modelo tridimensional de alta precisão da cidadezinha em sua cabeça. A história, mereceu em palavras do ensaio de Oliver Sacks, a qualificação de Pontito como "A paisagem de seus sonhos".
Via | The New Yorker.
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Comentários
Prosopagnosia não foi usada da maneira mais correta no texto. :x
Incrível. Eu não lembro nem o que comi no almoço!
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