A linguagem e o idioma ajudam a entender a Matemática
A linguagem tem um papel fundamental na aprendizagem do significado dos números, segundo revela um estudo conduzido pela psicóloga Susan Goldin-Meadow, da Universidade de Chicago (EUA) e publicado no último número da revista PNAS.
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Em uma pesquisa realizada com pessoas surdas da Nicarágua que não tinham aprendido a linguagem de sinais "formal", Goldin comprovou que eram incapazes de entender o valor de números maiores que três, devido a que não manejavam uma linguagem com os símbolos necessários para contar. Ao contrário, as pessoas surdas que sabiam a linguagem dos sinais desde a infância podiam aprender e entender o significado de grandes cifras.
O estudo revela que a linguagem dá forma ao modo em que as crianças aprendem conceitos matemáticos. Não é só o vocabulário o que importa, senão entender as relações que há entre as palavras -o fato de que "oito" é maior que "sete" e menor que "nove"-.
- "A pesquisa não determina que aspectos da linguagem estão fazendo o trabalho, mas sugere que a linguagem desempenha um papel importante na aquisição do número", acrescenta a colega Betty Tuller, da Divisão de Comportamento e Ciências Cognitivas da Fundação Nacional de Ciência (NSF) nos EUA, coautora do artigo.
Um estudo correlato antigo já havia comprovado também a influência de um idioma em nossa arquitetura mental e em nossa capacidade de raciocínio. Se pedirmos, por exemplo, a um brasileiro e a um chinês que leiam em voz alta uma sequência de 7 números e que depois fechem os olhos e passem 20 segundos memorizando os números antes de repetir em voz alta novamente, o Brasileiro teria 50% de chances de recordar toda a sequência, mas o Chinês se aproximaria de 100%. A razão é simples: o cérebro humano armazena dígitos em um lapso de memória que dura uns 2 segundos, o que significa que é mais fácil memorizar o que podemos dizer ou ler dentro do lapso de 2 segundos. Como os números do idioma Chinês são notadamente mais breves (4 é si e 7, qi), é possível decorar mais números em menos tempo.
Também há uma grande diferença em como os números são construídos nas línguas ocidentais e nas asiáticas. No Português diz-se: dezesseis, dezessete, dezoito, mas também se diz onze, doze, treze... Ou seja, não existe nenhuma lógica linguística. Já na China, Japão e Coréia tudo é mais simples pois tem uma forma de contar lógica. 11 é dezum. Doze, dezdois. 24 é doisdezquatro.
Esta diferença permite que as crianças asiáticas aprendem a contar bem mais rápido que os ocidentais. Os pequenos chineses de quatro anos sabem contar até quarenta já os brasileiros dessa idade só sabem contar até quinze, e a maioria não consegue contar até os quarenta até completar cinco anos. Em outras palavras, aos cinco anos, as crianças brasileiras já perderam um ano em relação aos asiáticos na mais fundamental das habilidades matemáticas.
Estas estruturas linguísticas fazem com que o sistema asiático seja mais transparente, determinando uma atitude diferente para a matemática: em vez de ser uma decoreba danada, apresenta um modelo inteligível e que é mais fácil de entender, vejam o exemplo
Se pedirmos a uma criança brasileira para somar mentalmente trinta e sete mais vinte e dois, terá que converter as palavras em números (37 + 22) antes de efetuar a operação: 2 + 7 = 9; e 30 + 20 = 50, perfazendo um total de 59. Mas se pedirmos a uma criança asiática que some trêsdezsete e doisdezdois, ele não precisa visualizar nada. Já tem diante de si a equação prontinha e encaixada para calcular que trêsdezsete mais doisdezdois é cincodeznove.
Lógico que isto não torna os asiáticos mais inteligentes, mas devemos concordar que facilita bastante o aprendizado.
Via | Science Daily e MDig.
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