A apaixonante vida sexual dos fermentos

LuisaoCS

A apaixonante vida sexual dos fermentos

Em uma de suas novelas autobiográficas o naturalista Gerald Durrell conta um divertido episódio de sua infância. Seu professor explicou-lhe que os caracóis são hermafroditas e realizam a cópula simultaneamente com os genitais masculinos e os femininos. Seu irmão, o escritor Lawrence Durrell, ficou muito chateado achando injusto que os humanos só possam desfrutar de um único órgão sexual, enquanto um animalzinho baboso e asqueroso é capaz de conseguir o dobro do deleite.

Se ele tivesse conhecido o costume dos organismos ascomicetos teria tido um treco.


O fermento Saccharomyces cerevisiae é um bom exemplo. Este organismo unicelular já está há muito tempo convivendo com o homem, sendo responsável por algumas dos maiores realizações da civilização como a elaboração da cerveja e do vinho (ah e também do pão, não sei por que quase ia me esquecendo). Em condições normais, o fermento tem uma só cópia de seu genoma e pode ser de gênero a ou α, que são iguais salvo em uns poucos genes. Uma população onde só exista um dos sexos será viável, mas muito celibatária e aborrecida, já que os fermentos só se reproduzirão de forma assexuada por gemação.

A magia começa quando misturamos em um tubo de ensaio células de ambos os sexos. Os românticos fermentos não perdem nem um segundo em inundar o ambiente de amor. O carinho não se expressa com cartas, bombons, perfumes, ramos de flores ou cartões de crédito, senão emitindo uma feromônio que é detectado pelo sexo contrário.

Uma vez que um fermento a nota a presença do feromônio α, ou vice-versa, aparecem os sintomas da paixão, que não são borboletas no estômago, leveza nos pés ou nuvens na vista, senão uma parada no ciclo celular e os fermentos se orientam para a direção onde vêm os feromônios. A sorte está lançada. Quando o fermento a e o α entram em contato físico acontece um orgasmo  apocalíptico que consiste das duas células apaixonadas fusionaremm em uma so, dando lugar a uma nova célula que terá duas cópias do genoma.

Nós, suposto sumo da evolução, nos conformamos com compartilhar um pedacinho de carne, enquanto um mísero ser unicelular vai com tudo ao ato sexual. A nova célula (chamada diploide) pode viver uma feliz e longa vida conjugal, compartilhando os dois jogos de cromossomas e dividindo-se assexuadamente.

Como todas as histórias de amor, a união íntima dos fermentos também pode acabar em divórcio. Se a célula diploide passa a um meio pobre em nutrientes sofre um processo denominado esporulação, pelo qual se divide em quatro células filhas, duas a e duas α, cada uma com uma so cópia do genoma, que voltarão a começar o ciclo. Já disse o último da fila: "quando a pobreza entra pela porta o amor sai pela janela".


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