Animais transgênicos que em breve podem fazer parte do cardápio humano
Não faz muito tempo o anúncio da empresa AquaBounty de que estava próxima a autorização para a comercialização de um salmão transgênico de crescimento rápido ocupava capas da mídia mundial. Até agora quando se fala em transgênicos a gente costuma pensar em milho ou soja, mas há toda uma lista de animais procedentes da engenharia genética na fila de espera da permissão para ocupar as prateleiras do seu mercados habitual. Os objetivos em seu desenvolvimento não se resumem somente em desenvolver animais mais produtivos, também mais ecológicos ou mais saudáveis.
Enviropig
O estereótipo dos porcos como animais sujos que só comem lavagem é questionado pelo "Enviropig" (Ecoporco, em tradução livre) da Universidade de Guelph que, conquanto cresce ao ritmo de um porco normal, produz menos dejetos e precisa menos alimentação. O Enviropig foi criado especificamente para ajudar a solucionar os problemas do meio ambiente que ocasionado pelo gerenciamento de purinas (parte líquida que resulta do esterco) nas granjas de porcos.
Os fitatos (sais de ácido fítico) são a principal forma de armazenamento -até 75%- de fósforo nas plantas. Os animais não ruminantes, como os humanos e os porcos, não podem assimilar o fósforo dos fitatos porque, ao necessitar do catalizador adequado, a enzima fitasa, não podem separar o fósforo do conjunto da molécula. Portanto, por uma parte, os fitatos são excretados sem que sejam processados pelos porcos e, por outra, há a necessidade de alimentá-los com fontes suplementares de fósforo em formas assimiláveis.
No Enviropig introduziram o gene que codifica a fitasa procedente da Escherichia coli, uma bactéria habitual de nosso intestino. Como resultado, come menos e produz menos resíduos, incluindo até 65% menos fitatos nas fezes, o que diminui o impacto ambiental das purinas.
A Universidade de Guelph é a proprietária dos direitos do Enviropig, e desde 2007 está no processo de aprovação para consumo humano por parte da Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos e a Health Canada. Até agora somente a segunda se pronunciou dando o visto em relação ao efeito sobre o meio ambiente, mas solicitou mais documentação em relação à segurança para o consumo humano. A aprovação segue em passos de tartaruga.
Caenorhabditis elegans
Os ácidos graxos ômega-3 estão na moda, e por uma boa razão. Seu consumo está relacionado a uma melhor saúde cardiovascular e riscos menores de diabetes e câncer. Mas a alimentação típica dos animais de granja não contém muito ômega-3, de fato contêm de forma natural somente ácidos graxos ômega-6 que não têm os mesmos benefícios para a saúde.
A possível solução vem de uma equipe da Universidade de Harvard que incorporou o gene fat-1, procedente do Caenorhabditis elegans -um verme nematódeo muito conhecido em pesquisa biomédica-, em seus porcos. Este gene permite aos porcos transformar os ácidos graxos ômega-6 de suas rações em ômega-3.
Mas isto é só o começo. A mesma equipe está trabalhando em outros animais, como galinhas ou peixes e em produtos hortigranjeiros que habitualmente não contêm ômega-3, como os tomates. A última informação disponível indica que a equipe está buscando uma empresa que esteja interessada na comercialização e que se encarregue da burocracia e despesas que implica o processo de autorização para consumo humano. Não há data para a chegada ao mercado.
Salmão AquAdvantage
O salmão AquaAdvantage cresce duas vezes mais rápido que um salmão normal (Salmo salar), atingindo os 500g depois de apenas 200 dias, em vez dos mais de 400 habituais. Aliás os dois salmões da imagem têm a mesma idade. O salmão cresce mais rápido porque os pesquisadores da AquaBounty, a empresa que o produz, inseriram um gene do hormônio do crescimento proveniente do salmão-rei (Oncorhynchus tshawytscha).
Em teoria, o AquAdvantage poderia significar um alívio da pressão sofrida pelo salmão do Atlântico selvagem, já que seria somente criado em estabelecimento de piscicultura em terra. E para evitar que se produzisse o efeito da teoria do "gene de Troia", levantado por Muir e Howard em 1999 em referência ao Oryzias latipes (um peixe de aquário japonês) modificado com o gene humano do hormônio de crescimento, que se um só exemplar escapasse e se reproduzisse poderia acabar com populações inteiras e inclusive com a espécie, os salmões AquaAdvantage são estéreis.
O salmão AquAdvantage é o animal transgênico mais próximo de conseguir a certificação da FDA para o consumo humano, já tendo superado cinco fases das sete que compõem o processo.
A AquaBounty também está trabalhando para incorporar a seu catálogo a mesma tecnologia de hormônio do crescimento em camarões e em tilápias, importantes espécies para a aquicultura.
Existem muitos mais projetos, mas nenhum tão avançado como estes. Todos eles, de igual forma abordam problemas diligentes da humanidade -alimentos suficientes, saúde e meio ambiente-, suscitando as mesmas interrogações sanitárias e ecológicas, em primeiro lugar, mas também as econômicas e políticas. Para poder ter uma opinião formada sobe o assunto é necessário conhecer mais em profundidade em que consistem e os riscos relacionados aos alimentos transgênicos.
Bom Apetite!
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