Arquivo do mês de julho 2016
Porque não devemos confiar muito nos sabichões individuais
Uma das falácias lógicas mais repetidas é "isso é verdade porque fulano disse", entendendo que fulano é alguém muito versado, um especialista, um sábio, alguém que merece respeito e reverência intelectual. O fato de que achar que uma afirmação tem mais peso porque procede de um sábio reconhecido academicamente parece corroborar o espírito da ciência, mas só em aparência. Por que a ciência não se baseia no agregado de afirmações procedentes de sábios. Quem tem esta ideia sobre a ciência não conhece como funciona o método científico.
Em todo caso, o que faz a ciência é converter em verdade temporária o que um grupo de especialistas determinaram como tal. Qual é diferença entre um sábio e muitos sábios? É a Grande Diferença.
Antigamente prosperava a ideia romântica do gênio individual que, nadando contra a corrente, abria os olhos de todo mundo. No entanto, esta imagem nunca foi verdadeira, por pouco que aprofundemos na história das ideias. E atualmente, de fato, é um completo mito. Os estudos costumam ser realizados em colaboração. Há papers de física que são trabalhos colaborativos de dezenas de autores.
A Ilusão da Verdade
Uma das gratas surpresas no mundo da divulgação científica é o canal Veritasium, onde o Derek fala sobre diversos assuntos curiosos e pouco explorados. Neste ele nos fala sobre a facilidade cognitiva a qual tendemos a preferir ideias que são familiares e simples. Baseado no mote de Joseph Goebbels de que uma informação (inclusive um mentira) repetida mil vezes torna-se verdade, o desafio é ser auto-consciente e se manter lúcido sobre por que achamos que algo é verdadeiro, ou se, ao contrário, exige um pouco mais de razoamento.
Ler livros de ficção nos torna mais empáticos
Para muitos, não há nada como submergir em um bom livro de ficção: alimentamos nossa imaginação e nos evadimos das tarefas ou preocupações do dia a dia. Agora, uma nova pesquisa do Departamento de Psicologia Aplicada e Desenvolvimento Humano da Universidade de Toronto, no Canadá, publicada na revista Trends in Cognitive Sciences, vai um pouco mais longe, concluindo que ler novelas de ficção desenvolve também nossa empatia.
Segundo os pesquisadores, a literatura de ficção pode influir nas habilidades sociais de uma pessoa, concretamente em relação a sua resposta empática desde as letras ao mundo real, porque faz com que nos coloquemos na pele dos outros (dos personagens).
Porque todos deveríamos agradecer as correções, ou o problema dos especialistas
Não a correção política, obviamente. Mas ainda que possa parecer que isso compromete nossa reputação, devemos permitir que nossos parceiros nos corrijam. Que as esposas retifiquem o GPS interno de seus maridos, que os namorados afiram a bússola desreguladas de suas namoradas. Isso evitará que cometamos tantos erros. Também é bom que deixemos que colegas, pais, parentes e inclusive desconhecidos nos corrijam.
A melhor forma de detectar erros em um texto que você acaba de escrever, por exemplo, é submetê-lo ao escrutínio de outros olhos, ou então lê-los novamente mais tarde ou no outro dia. Por isso a Lei de Linus é tão poderosa. Inclusive se o leitor for leigo, vai acabar descobrindo erros que passarão despercebidos pelos especialistas (precisamente porque os especialistas corrigem pouco).
O hábito é um grande amigo, pois nos poupa tempo e muito esforço mental. Mas também pode matar nossa capacidade de perceber situações novas. Após um tempo só vemos o que esperamos ver. Passamos roçando as coisas e não vemos os detalhes, senão os padrões gerais. É como se fosse uma espécie de leitura dinâmica presente no nosso cotidiano.
Sabia que na Idade Média já existiam casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo?
Em muitas ocasiões a história dá-nos um banho de realidade quando achamos que a sociedade atual é a responsável pelo reconhecimento de alguns direitos ou pioneira de certos avanços sociais, quando a realidade é que se recuperam direitos já adquiridos no passado e que a passagem do tempo os fez cair em o esquecimento ou, pior ainda, foram devidamente "esquecidos" pelo interesse de alguns. Por exemplo, os casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo, neste caso homens, durante a Idade Média -ainda uma utopia em muitos países em pleno século XXI-.
Durante a Idade Média criou se o termo affrèrement, na França, e brotherment, na Inglaterra, para fazer referência à união civil de dois homens. Mediante um contrato legal, dois homens comprometiam-se a viver juntos e compartilhar "o pão, o vinho e o dinheiro". E ainda que o modelo desta nova "unidade familiar" era o de dois irmãos que herdavam as propriedades de seus pais e que decidiam seguir vivendo juntos, tal e qual tinham feito desde crianças, compartilhando suas posses, o affrèrement/brotherment também foi utilizado por homens sem nenhuma relação de parentesco.
As melhores ilusões visuais de 2016
Estas são as ilusões finalistas do Best illusion of the Year (2016), um concurso anual sobre ilusões ópticas (e de outro tipo) que enganam nossos sentidos e no qual os especialistas na matéria se esforçam, ano a ano, para que sempre surgem curiosas novidades que enganem nosso sistema perceptivo.
A ilusão ganhadora (que abre este post deste ano é uma variação cheia de efeito de um tema bem conhecido como zonas de uma imagem que parecem se mover, mas que não.
Conheça Deep Blue, o maior tubarão já filmado
No verão passado, os mergulhadores ao largo da costa da Ilha de Guadalupe, no México nadaram na presença de um enorme tubarão-branco (Carcharodon carcharias) o peixe predador de maiores dimensões existente na atualidade. Esta tubarão-fêmea, que foi apelidada de "Deep Blue", estava grávida na época, o que corresponde um pouco de seu tamanho. Tenho certeza de que essas gaiolas são seguras e tudo o mais, mas o mais próximo que eu me aproximaria deste animal é assim... na tela do PC.