Não confie em sua bússola moral em questões espinhosas
Quando vemos que uma criança está a ponto de ser atropelada por um carro, nosso primeiro impulso é sair correndo para evitar. Quando somos testemunhas de como um bandido rouba a bolsa de uma idosa, nosso primeiro pensamento é que a justiça recaia sobre ele. Estas e outras reações instintivas são fruto de nossa bússola moral
Graças a ela podemos agir rapidamente em situações que assim requerem. O efeito colateral negativo da bússola moral é que também funciona muito rapidamente quando se trata de abordar temas complexos e espinhosos, cheios de nuances. Em consequência, a bússola moral serve para nos impelir em determinadas situações, mas também nos faz achar que sabemos bem mais do que realmente sabemos.
Ademais, há questões que não são más ou boas e nada mais, podem ser parcialmente boas e parcialmente más, morais e imorais ao mesmo tempo, ou inclusive imorais por questões contextuais ou idiossincráticas. Uma bússola moral, pois, oferece uma ideia enganosa da realidade, como explicam os economistas Stephen J. Dubner e Steven Levitt em "Think Like a Freak":
"Uma bússola moral pode convencer você de que todas as respostas são óbvias (ainda que não sejam); de que há uma linha brilhante entre o correto e o errado (quando com frequência não há), e pior, te dar a certeza de que já conhece tudo o que precisa saber sobre um tema, com o qual você pode deixar de aprender mais."
Isso não significa que devemos abrir mão para sempre de nossas intuições morais, senão que saibamos não lhes dar muita importância em algumas ocasiões, sobretudo quando tratamos de analisar eticamente um tema escabroso, por exemplo em um debate. Um pouco como os navegantes de antanho:
"Nos séculos passados, os navegantes que confiavam na bússola descobriam que de vez em quando dava leituras erráticas que os desviavam da rota. Por que? O uso cada vez maior do metal nos barcos -pregos de ferro, ferramentas dos marinheiros e inclusive broches, correntes e botões- interferia com a leitura magnética da bússola."
Por isso, uma forma eficaz para que a bússolas dos marinheiros deixassem de proporcionar leituras erráticas era usar o conhecimento científico para corrigir o problema. De um modo similar, as questões morais espinhosas são mais fáceis de abordar se recorrermos a dados que emanam da ciência e não do coração. A ciência só é um conjunto de dados sobre o mundo, um padrão que nos permite conduzir de um modo mais sistemático, com menos carga de incertezas e de opinião, inclusive nos adiantando acontecimentos. Dados mais objetivos que nos permitirão formar uma opinião moral mais rica graças a nossa bússola moral.
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