Memórias infantis: por que não recordamos quase nada anterior aos 3 anos?

LuisaoCS

Memórias infantis: por que não recordamos quase nada anterior aos 3 anos?

Segundo a quem pergunte, a primeira lembrança de uma pessoa oscila entre os 3 e os 5 anos. Usualmente trata-se de eventos importantes na vida do menino ou menina, tais como a chegada de um novo irmão na família, uma viagem, uma mudança, ou inclusive um evento de natureza mais traumática.

Mas determinar o instante preciso em que a memória se manifesta nas pessoas -e começa esse interminável processo de auto-narração pelo qual as imagens de nossa vida conformam a sensação de que somos "nós"- implica entender que a memória não é um arquivo de dados, senão um conjunto de vivências plásticas e flexíveis que nem sempre apela aos mesmos mecanismos.


Por exemplo, a professora de psicologia Carole Peterson constatou em suas pesquisas sobre memória infantil que há crianças que recordam coisas de quando tinham 20 meses de idade, mas tais memórias desaparecem entre os 4 e os 7 anos.

Isto é explicado, segundo Carole, porque a memória das crianças é maravilhosa, mas nem tudo é recordado em longo prazo. Ao que parece, a permanência das lembranças infantis depende de que estas repousem em emoções, e de que ditas memórias sejam coerentes quando voltamos a revivê-las.

Nosso sistema de memória adulto é muito diferente do das crianças: talvez sejamos capazes de recordar coisas através de palavras ou semanticamente, mas a memória infantil recai bem no reconhecimento, quando ainda não está formada o que depois se chamará "memória episódica".

O professor Steven Reznick não acha que tenha tal coisa como "amnésia infantil" senão que formas mais sofisticadas de memória que vão se desenvolvendo a partir de 2 anos, mas o que existe em nossa memória antes deste ponto não desaparece senão que não temos contexto para recordar. Por exemplo, no caso de que nossa primeira lembrança seja o nascimento de um irmão, provavelmente se tínhamos menos de 3 anos não possuíamos o conceito de hospital e nem de nascimento, muito menos o de irmão.

Apesar de não ter contexto, a sobrevivência da memória infantil pode ser demonstrada no fato de que nosso reconhecimento facial das pessoas que nos cuidaram quando éramos muito pequenos não se perde com o tempo. Podemos especular que nessa época o que precisávamos era reconhecer àqueles em quem podíamos confiar, o que poderia explicar por que os bebês geralmente desconfiam de desconhecidos, e inclusive choram no colo de estranhos.

Em resumo, a memória infantil é pré-verbal, motivo pelo qual não está arquivada da mesma maneira que nossas lembranças posteriores, mas isso não quer dizer que tenham desaparecido; simplesmente mudamos, crescemos.

Via | The Atlantic.


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