Sair para correr pode produzir um efeito similar ao consumo de maconha
Lembro-me de cruzar uma estrada deserta próximo de casa, todos os dias, alternando corrida e pedalada, praticamente sozinho. Hoje, mal começa a anoitecer e é possível ver dezenas de pessoas calçando tênis caríssimos, roupa de malha apertada colorida, que correm de um lado ou outro (às vezes na pista mesmo, porque passam poucos carros) tomando seus energéticos e isotônicos, enquanto ouvem música nos fones de ouvido ou controlam seus progressos em uma pulseira inteligente.
Com shortão de futebol, camisa de malha rasgada, tênis importado chinês e cantando o meu próprio BPM, hoje me sinto um estranho no ninho onde antes eu era o rei. Mas há uma grande diferença eu e alguns poucos fazemos por prazer e não por modismo.
Eu acho que dentro de um tempo esses corredores coloridos devem desistir e a prática deverá voltar a ser marginal. No entanto, esta moda poderia ter um outro efeito potencializador da verdadeira prática. Não dá pra explicar muito bem, só quem passa pela sensação saberá entender: quando a gente faz um esforço brutal, correndo ou pedalando, em dado momento a dor parece sumir, o ácido lático evapora e acabamos experimentando efeitos psicoactivos muito similares aos da maconha, produzindo assim um tipo de euforia e alegria.
Este estado relatado por muitos atletas de fim de tarde, que poderia sim fazer os corredores hipsters realmente tomarem gosto pela corrida ou pelo ciclismo, foi comprovado recentemente em um experimento com ratos cujos resultados foram publicados na conceituada revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Johannes Fuss, do Instituto de Pesquisa sobre o Sexo e Psiquiatria Forense de Hamburgo (Alemanha), e líder do estudo, realizou seu experimento com três classes de ratos: ratos sedentários e ratos ativos e, por último, ratos transgênicos (para que fossem imunes aos efeitos dos endocanabinóides).
Os ratos que correram durante horas em uma roda segregaram um composto endocanabinóides, a anandamida -que gera efeitos semelhantes aos do principal componente da maconha e vem sendo pensada pra combater o vício da mesma-, e apresentavam uma redução da ansiedade e uma maior tolerância à dor com respeito aos ratos sedentários. Por sua vez, os ratos transgênicos apresentaram a mesma condição que os ratos que não tinham realizado os exercícios.
O caso é que isso nos incentiva a correr novamente e de novo e outra vez. É quase um vício, mas um vício bom, pois são benéficos para a saúde geral de um atleta. Um estudo recente conduzido por pesquisadores da Universidade de Iowa mostrou que alguns dos benefícios cardíacos vinculados aos exercício vêm na posterior liberação de peptídeos opióides, que também poderia melhorar a eficiência do treino de um corredor, beneficiando o seu consumo de oxigênio superior e a força.
Muito provavelmente este estado seja um reforço positivo -como se fosse uma recompensa do nosso sistema evolutivo- para que façamos algo difícil e doloroso que também nos ajudaria a sobreviver melhor, ser mais saudável, caçar melhor ou ter mais filhos.
Via | Daily Mail.
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