Os saguis, nome com o qual se conhece várias espécies de pequenos primatas do Novo Mundo, não são apenas adoráveis por seu aspecto senão também por seu sistema de vocalizações. A equipe de Daniel Takahashi, que estuda o tema há anos, comprovou que enquanto os adultos emitem uma série de chamadas agudas parecidas a um apito, as crianças mal emitiam uns chiados parecidos a um pranto.

Para tratar de explicar este trânsito, os pesquisadores mediram a atividade respiratória de adultos e crianças e comprovaram que a mudança nas vocalizações podia ser explicada em parte pela amadurecimento do sistema respiratório. Mas analisando os padrões acústicos viram que não era o suficiente.

O seguinte passo da equipe foi pesquisar se as respostas dos adultos às vocalizações das crianças poderiam afetar a esta transição entre simples lamentos e chamadas distinguíveis. Para isso, como explicam no trabalho publicado ontem, quinta-feira, na revista Science, os cientistas registraram as chamadas das crianças desde o nascimento até os 20 dias de idade e analisaram a interação acústica com seus pais. Para sua surpresa descobriram uma poderosa correlação entre ambos os sinais. A mudança acontece bem mais rápido naqueles indivíduos que mais sons trocam com seus pais.

Nas gravações é possível apreciar esta interação entre adultos e crianças que conduz a uma aprendizagem por parte destas últimas e demonstra que escutam seus pais. Ainda que esta diferença na emissão de chamadas ocorre em muitas outras espécies, é a primeira vez que conseguem demonstrar que existe esta relação direta entre ambas as chamadas, e os autores do trabalho concluem que os saguis são a única espécie de primata conhecida até agora que compartilha conosco a capacidade de ensinar seus filhotes a modular as vocalizações.

Logicamente os saguis não "falam" e a comunicação entre eles é muito rudimentar. Mas uma das questões que mais interessa aos cientistas que estudam este tema é como puderam estas primeiras ferramentas de comunicação ajudar ao aparecimento da linguagem nos humanos. Talvez, como aponta Daniel Margoliash em um artigo complementar na própria revista Science, a descoberta de Takahashi e seus colegas aponte à existência de um fundamento para a aprendizagem vocal do qual os hominídeos puderam tomar vantagem e que permitiu a comunicação em nossa espécie.

Via | EurekAlert.

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