Pois, amigo, sua intuição não é tão boa quanto você pensava

LuisaoCS

Pois, amigo, sua intuição não é tão boa quanto você pensava

A ideia de que nossa intuição é uma arma mais poderosa que a reflexão cobrou força nos últimos anos, impulsionada por autores como o questionado Malcolm Gladwell, que dedicou sua obra "Blink" a elogiar a "inteligência intuitiva", ou alguns iluminados que fazem questão da defesa da inteligência emocional em frente à razão. Alguns neurocientistas já tinham assinalado a inconsistência de alguns dos argumentos em defesa da intuição, mas a metanálise apresentada por uma equipe de pesquisadores holandeses faz alguns dias pode ser a prova definitiva.

Os defensores da intuição asseguram que nosso cérebro é capaz de tomar decisões por nós a nível inconsciente que são melhores que as que racionalizamos e se conhece tecnicamente como "vantagem do pensamento inconsciente" (UTA, por suas siglas em inglês). Em um trabalho publicado na revista Judgement and Decision Making e resenhado pela Nature, os cientistas apresentam uma análise estatística dos estudos realizados ao redor deste fenômeno e um trabalho realizado ad hoc para conhecer os efeitos deste mecanismo mental, sob o título de "Unconscious thought not so smart after all".


O que fizeram Mark Nieuwenstein e Hedderik von Rijn foi recrutar uma amostra muito ampla (399 voluntários) e submetê-los ao teste típico para medir a influência dos mecanismos inconscientes na tomada de decisões. Um dos grupos tinha a tarefa de refletir antes e os outros tomavam as decisões distraídos. Quem tomou decisões mais acertadas? Pois os resultados indicaram que não havia diferenças claras entre a capacidade de ambos os grupos.

Para continuar com seu indagação, os cientistas tomaram 60 dos 81 experimentos descritos nos 32 estudos sobre o fenômeno UTA publicados durante 2014 e submeteram-nos a um metanálise. Descartaram aqueles em que a mostra era muito pequena (um erro bastante habitual neste tipo de trabalhos) e incluíram os resultados de seu próprio estudo. O resultado, depois da análise estatística é que não há elementos que comprovem que a "inteligência intuitiva" ofereça uma vantagem relevante em frente ao razoamento das decisões.

Quer isto dizer que a intuição não tem nenhum papel no processo de tomada de decisões? Em absoluto, o que indicam os experientes é que as experiências  feitas até agora não fornecem nenhuma prova contundentes para demonstrá-lo. Quando se argumenta sobre este fenômeno em obras de divulgação científica, como o caso do livro "Blink", é frequente a distorção conhecida como "cherry picking" (escolher só os fatos que favorecem nossa hipótese), o que não faz favor algum à ciência.

 - "Este estudo é uma grande contribuição", assegura o psicólogo cognitivo David Shanks do University College de Londres, que já publicou outros trabalhos questionando o papel da intuição.  - "O grande debate agora é saber quão inteligente é nosso inconsciente", sentencia.Por agora podemos afirmar categoricamente que não há elementos que nos permitam afirmar que a intuição esteja a frente da razão à hora de tomar decisões.


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Comentários

Intuição é um processo melhor do que imagina. O prisma é errado.

Vai por mim.

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