5 motivos para duvidar da existência do Jesus histórico
Os acadêmicos e teólogos levam uns 200 anos sustentando uma intensa discussão: existiu um rabino do século I chamado Yeshua ben Yosef, cujos seguidores, através de um processo de evangelização, estenderam os mistérios de sua doutrina, ou se trata mais de um constructo histórico -um herói mais literário que histórico- que serviu para agrupar política e identitariamente às colônias do Império Romano?
Alguns afirmam que a figura histórica foi embelezada depois por mitos provenientes da Ásia Menor e traços de neoplatonismo; outros, que existiram vários Cristos, e que o fenômeno dos profetas era mais comum do que imaginamos.
Talvez para muitos, a resposta a este enigma se encontre na fé de quem pergunta; para os demais, existem algumas evidências históricas a tomar em conta, tanto para afirmar a existência de Yeshua ben Yosef quanto para negar:
- Não existe nenhuma evidência secular do século I que prove a existência de Yeshua ben Yosef
O pesquisador Bart Ehrman afirma que os autores pagãos do século I não fazem nenhuma referência ao Jesus bíblico: a única base histórica de Jesus é a Bíblia, o que seria tanto como dizer que a única existência histórica de Super-Homem é a revistinha da DC Comics.
Sabemos que o Jesus bíblico nasceu, foi registrado em um famoso censo e depois julgado e executado. Pesquisadores historiográficos como Ehrman supõem que deveria existir algum tipo de rastro em fontes não cristãs. No entanto, Ehrman afirma também que:
- "Temos muitos documentos da época: os escritos de poetas, filósofos, historiadores, cientistas e oficiais de governos, por exemplo, sem mencionar a enorme coleção de inscrições em pedra que sobrevivem, e cartas particulares e documentos legais em papiro. E nada, absolutamente nada, neste longo inventario de escritos sobreviventes menciona o nome de Jesus". - Os primeiros redatores do Novo Testamento desconhecem detalhes da vida de Jesus que vão aparecendo em posteriores manuscritos
Paulo o Apóstolo não dá conta de nenhuma Imaculada Conceição -ainda que os teólogos se esforçaram em fazer entrar à força no dogma contradições lógicas evidentes, substituindo-as por aparatosos saltos de fé-, de nenhuma Estrela do Oriente e de nenhum milagre. Será que Paulo não conhecia bem seu famoso mestre? De fato, o apóstolo nem sequer menciona que Jesus tinha discípulos; Paulo, o mais cristão dos cristãos, com frequência opõe-se aos outros discípulos por não considerá-los verdadeiros cristãos…
O teólogo liberal Marcus Borg afirma que na forma atual do Novo Testamento, colocar os Evangelhos após Paulo é uma mostra de que, como documentos escritos, não são a fonte do Cristianismo, senão um produto seu:
- "O Evangelho -as boas novas- a respeito de Jesus existia antes dos Evangelhos. São produtos das primeiras comunidades cristãs muitas décadas antes da vida do Jesus histórico e dizem-nos como estas comunidades viam seu significado no contexto histórico". - As histórias do Novo Testamento não pretendem ser relatos de primeira mão
Desde os tempos de Hammurabi era uma prática comum oferecer a autoria de uma obra a uma autoridade famosa, desde reis até deuses, ou usar um pseudônimo. Sabemos que os quatro Evangelhos bíblicos correspondentes a Mateus, Marcos, Lucas e João, não foram escritos por eles. De fato, os nomes dos Evangelhos foram fixados no século II de nossa era, anos após a morte de todos os discípulos históricos. Os pesquisadores acham que as cartas de Paulo (da 6ª à 13ª) são genuínas, mas em nenhuma delas existe uma menção a algum evento de primeira mão, não dizem: "Eu estava lá!", um procedimento histórico muito comum na literatura antiga: Herodoto narra vivamente eventos que tiveram lugar séculos antes de seu nascimento, e durante séculos foi considerado uma fonte histórica confiável. - Os Evangelhos (única fonte histórica de Jesus) contradizem-se
A página Exchristian.net permite examinar detalhadamente as contradições entre os Evangelhos. Ainda que Marcos seja considerado o primeiro texto sobre a vida de Jesus, as análises linguísticas sugerem que Lucas e Mateus simplesmente trabalharam sobre o texto de Marcos, acrescentando correções e novos materiais. Os discípulos nem sequer entraram em acordo sobre o lugar onde viram seu mestre, depois de voltar à vida: segundo Marcos 16:7 e Mateus 28:7, o evento ocorreu na Galileia; mas segundo Lucas 24:33,36 e João 20:19, o fato aconteceu em Jerusalém. - Os pesquisadores atuais que afirmam ter encontrado evidência do Jesus histórico também se contradizem
Em Deconstructing Jesus -uma lista das evidências históricas supostamente relacionadas à verificação do Jesus histórico- Robert Price afirma que o Jesus histórico (se por acaso existiu um) pôde bem ter sido um rei messiânico, ou um fariseu progressista, ou um xamã da Galileia, ou um místico, ou um sábio helênico. Mas sem dúvida não pôde ter sido todos ao mesmo tempo.
David Fitzgerald, por sua vez, conclui que a questão do Jesus histórico não pode evadir-se das ficções que os acadêmicos realizam ao tratar de reconstruí-lo. Provavelmente ocorreria o mesmo se tratássemos de provar a existência histórica de Siddharta Gautama ou de alguma das mais de 44 variantes conhecidas do mito de Hércules.
Paulo e o resto da primeira geração de cristãos integraram a tradução Septuaginta das escrituras hebréias com rituais pagãos e outros provenientes do gnosticismo, para prover de um relato maravilhoso sobre um deus encarnado que voltou de entre os mortos, assim como fizeram antes os egípcios, persas, gregos e hindus. O que é incontestável é que este relato tomou tração e, ao ser adotado como religião pelo Império Romano, atingiu os cumes de poder que segue detendo em nossos dias. Dito em outras palavras, talvez não consigamos (ou não) provar a existência de Yeshua ben Yosef, mas os efeitos dessa discussão seguem impactando o mundo (de maneiras não necessariamente positivas) 2 mil anos depois.
Via | Alternet.
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Comentários
Por que essa história continua na penumbra? Não devia ser assim. No entanto, quando fazemos uma aproximação dos fatos com fatos e não com ideias, é possível outra conclusão. http://cafehistoria.ning.co...
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