O feminismo como conhecemos poderia entorpecer o progresso da ciência?

LuisaoCS

O feminismo como conhecemos poderia entorpecer o progresso da ciência?

Sou consciente de que, com este tema, vou me meter em um campo minado... de novo. Mas quero mais é que as suscetibilidades batam no meu músculo filoginiaco e quiquem.

Sei que o feminismo é uma corrente de pensamento necessária e coerente em frente à discriminação histórica sofrida pela mulher, é antes de tudo uma luta por direitos humanos. No entanto, é preciso avisar algumas pessoas que o feminismo não vai só até a primeira página do Google: a maioria não gosta de ouvir isso, mas a grande verdade é que o feminismo dura até a hora de pagar a conta, nesse momento as "princesinhas" costumam fazer cara de paisagem e ir em dupla ao banheiro.

A verdade é que o feminismo, como qualquer outra postura política, em alguns aspectos pode chegar a ser socialmente comprometido, mas é intelectualmente muito preguiçoso. Porque, como dizia Francis Bacon:

- "O homem prefere acreditar nas coisas que gostaria que fosse verdade. Assim, ele pode rejeitar as coisas difíceis pela simples impaciência de pesquisar."

Mas vamos a um caso prático -ainda que hipotético-. Imaginem a publicação de um estudo que verifica as diferenças de capacidade matemática ligadas ao sexo mediante testes de neuroimagem e provas de perguntas a milhares de alunos do primeiro ano do segundo grau. O resultado do estudo é claríssimo: os testes matemáticos foram amplamente superados pelos garotos em relação as garotas, e ademais constatam que mais áreas cerebrais são ativadas neles do que nelas quando resolvem este tipo de testes.

Chegando a este ponto, cabem três atitudes por parte do pensamento crítico feminista:


  1. Aceitar a afirmação com equanimidade. Afinal, após tudo, o cérebro masculino é diferente do cérebro feminino, de modo que é bastante lógico supor que possuem capacidades diferentes. Os dados objetivos, pois, não são feministas nem machistas, nem também é boa ideia censurá-los por medo as repercussões.

    Bacana, tudo então acertado para que as mulheres recebam um tratamento justo com arranjo a seu talento individual, e não com arranjo a seu sexo, certo?. Uma vez que isso foi entendido por todos, em um mundo onde reina a equidade teria, por exemplo, apenas 30% de mulheres matemáticas, afinal como constatado elas não são nada boas no assunto.

  2. Outra atitude possível seria tentar descobrir as falhas do estudo e propor outros melhores. Como os garotos e as garotas recebem tipos de formação diferentes, uma vez que chegam ao segundo grau talvez fosse necessário fazer o estudo com crianças mais jovens, promover comparações cruzadas entre culturas, etc.

    Mas esta atitude requer muito esforço: há que adquirir conhecimentos profundos em estatísticas e técnicas de experimentação. De modo que a maioria das pessoas opta por uma terceira atitude...

  3. Desprezar os resultados do estudo dizendo que são tendenciosos por influência dos preconceitos dos pesquisadores, todos eles machistas recalcados e exigir 50% da vagas de matemáticas como um direito humano das mulheres. Talvez seja verdade: talvez esses pesquisadores sejam machistas, ou inclusive coisas muito piores -os cientistas também são humanos e cheio de defeitos-. Não obstante, as críticas deviam ser capazes de encontrar a falha pelo qual ditos preconceitos dos cientistas distorceram o resultado do estudo: não basta apenas dizer que o cientista é machista e não se fala mais nisso e pronto final.

    Ou seja, é bem mais fácil desprezar as estatísticas como se fossem simplesmente uma ferramenta para manipular os dados; logicamente, os críticos destas estatísticas aceitarão outras diferentes para sustentar os dados que lhes convêm. E tudo isso sem entrar ou compreender os arrevesados detalhes dos dados e sua interpretação. Talvez esta pequena refelxão sirva para entender o porque o movimento masculinista é cada dia mais forte.

Como aponta o físico Alan Sokal, seguir esta atitude de desprezo ou construtivismo radical "seria um ácido universal que atacaria também as pretensões de quem aplicá-lo".

Tudo isto não significa, insisto, que as críticas feministas não devem ser levadas em conta. Mas estas, assim como as críticas de qualquer outro tipo, deveriam ser rigorosas e evitar a demagogia barata e do arrebatamento a fim de não tropeçar no que elas próprias denunciam.

Mas afinal que mal Maria pode fazer a Ciência Os envolvimentos são vários, mas em um raciocínio simplista é possível concluir que isso poderia nos custar que determinados estudos não sejam realizados, ou pior ainda: que não sejam publicados abertamente por medo a irritar o status quo em torno do politicamente correto.

Eu notei isso ontem após receber um comunicado de uma senhora totalmente descompensada porque leu um artigo que não gostou, dizendo coisas tão absurdas como eu teria a culpa se a filha dela fosse violada na rua, enfim.... algo realmente vomitável, e tudo isso por que supostamente pisei na faixa do politicamente correto.

Alguém poderia também dizer que o título é sensacionalista, mas quem diz isso desconhece o estrago provocado ao progresso da ciência pela crítica de índole feminista de autoras como Evelyn Fox Keller, Carolyn Merchant ou Sandra Harding que sustentam estupidezes tão grandes que nos fazem perceber como intelectuais de renome conseguem minar a pesquisa científica -entre outras coisas catalogando como machistas estudos como o hipotético desse meu artigo-, vinculando-se ao construtivismo e relativismo mais radical e absurdo.

O caso é que muitas correntes intelectuais feministas e humanistas entorpecem sim a Ciência e bem mais do que imaginamos: desinformam sobre epistemologia, e sem ela o método científico deixa de fazer sentido. Algo que terá graves consequências políticas, sociais e culturais no futuro próximo.

E se por acaso talvez alguém se sinta ofendido por este artigo, transcrevo as palavras que Salman Rushdie escreveu em 2005:

Em Cambridge, me ensinaram um método louvável do argumento: nunca personalize, mas não tenha absolutamente nenhum respeito pela opinião das pessoas. Nunca seja rude com ninguém, mas seja brutalmente grosseiro com o que a pessoa pensa. Esta distinção me parece fundamental: as pessoas devem ser protegidas contra a discriminação em virtude de sua raça, mas não cabe uma vala protetora em volta de suas idéias. No momento em que que disser que um sistema de ideia é sagrado, seja um sistema de crenças ou uma ideologia secular, no momento em que declarar que um conjunto de ideias deve ficar a salvo de toda crítica, sátira, deboche ou desprezo, a liberdade de pensamento se tornar impossível.

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Comentários

como diz o meu chefe: ajudante de serviço geral tem um monte de mulher mas lá no almoxarifado carregando caixa só tem homem, que porr*$# de igualdade é essa?

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