O que tem a ver neurociência com basquete?

LuisaoCS

O que tem a ver neurociência com basquete?

Qualquer pessoa que pratique o basquete sabe que o mecanismo de lançar a bola está profundamente interiorizado, de maneira que se a pessoa tenta se concentrar e executar pensando em cada movimento, o mais provável é que falhe miseravelmente. Vários estudos assinalam que os jogadores de elite costumam bloquear a tensão em alguns momentos precisamente por isto.

Durante o processo de aprendizagem, enquanto realizamos uma nova tarefa recrutamos zonas do córtex cerebral, mas à medida que aprendemos o movimento com base em repetições, estas funções começam a passar ao cerebelo, onde não há um acesso tão direto a nível consciente. Um estudo com jogadores de basquete demonstra inclusive a plasticidade nesta área do cérebro e que, em jogadores profissionais, acontecem alterações macroscópicas e engrossamentos em determinadas zonas nas estruturas do cerebelo.


Isso permite as jogadores profissionais saber antes que qualquer um se a bola vai entrar. Em um estudo publicado na Nature Neuroscience em 2008, uma equipe da Universidade de Roma demonstrou que os jogadores têm uma habilidade especial para predizer o que vai acontecer na quadra. Para o experimento, os neurocientistas recrutaram dez jogadores profissionais, dez espectadores especialistas no esporte (treinadores e jornalistas esportivos) e dez estudantes que não jogavam basquete. Depois mostraram vários vídeos de pessoas fazendo lances livres, com a particularidade de que interrompiam o vídeo no meio da ação e pediam aos voluntários que predissessem como ia ser o lançamento. Os jogadores não só fizeram as melhores predições, senão que foram infinitamente melhores com seus prognósticos quando o vídeo parava antes de que a bola saísse das mãos do jogador.

Para conhecer melhor o que passava em seu cérebro, os cientistas repetiram o teste, mas monitorando sua atividade cerebral, e descobriram que o córtex motor ativava antes, mas com especial intensidade se o lance era errado. Isto sugere, segundo os autores, que os jogadores têm uma habilidade especial para predizer as ações dos outros antes de que aconteçam. E entre eles há alguns mais dotados para esta antecipação, por isso há jogadores como Michael Jordan ou Nate Robinson que, sem ser os mais altos (principalmente o segundo) nem os mais fortes, conseguem apanhar alguns rebotes antecipando a ação de gigantes do garrafão.

Em um estudo mais recente, este da Universidade de Milão, os cientistas registraram mediante encefalograma a atividade cerebral de vários jogadores aos que mostraram ações corretas e incorretas de basquete. O que viram os cientistas foi que, a nível visual, todos os voluntários apresentavam a mesma reação, mas nos cérebros dos profissionais disparava um sinal, o P400, cada vez que viam uma ação incorreta. Em este processo, asseguram, intervêm o lóbulo parietal e o cerebelo entre outras áreas.

Na atualidade já é possível aplicar novas tecnologias no condicionamento físico e cerebral do jogador de basquete. Esta manga de última geração, por exemplo, detecta a trajetória e ajuda o jogador a corrigir posições e manias que pioram seu lançamento. Quem sabe se em um futuro próximo muitos jogadores não treinarão assim:


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