“Frankensteins” da entomologia: o caso dos transplantes de cabeça entre insetos

LuisaoCS

“Frankensteins” da entomología: o caso dos transplantes de cabeça entre insetos

Ainda que a ideia possa parecer disparatada (ou literalmente descabeçada), os biólogos vivem trocando cabeças de insetos como se tratasse de brinquedos de ação há pelo menos uns 90 anos. Mas o transplante não é realizado para produzir involuntários “frankensteins”, senão que durante o processo ambos insetos permanecem vivos e aceitam a nova cabeça.

Em 1923, um biólogo chamado Walter Finkler escreveu que tinha conseguido transplantar com sucesso as cabeças de vários insetos, entre eles borboletas comuns, percevejos e minhocas. Finkler descobriu que tanto em estado adulto quanto larvário era possível realizar a troca de cabeças em um processo bastante simples: cortar as cabeças com tesouras e colocar no corpo do outro. O líquido que sai de ambas cabeças serve como selador e após um momento o inseto voltava à vida, não sem algumas mudanças dignas de serem notadas.


As cabeças de insetos femininos transplantadas em corpos masculinos seguiam comportando-se como femininos; as trocas entre diferentes espécies deram um resultado similar: as cabeças de borboleta seguiam comportando-se como suas espécies de origem, apesar de que seus corpos fossem de outra espécie.

No caso das minhocas, J.T. Cunningham afirmou que só os corpos sobreviviam ao processo: as cabeças mortas não pareciam ter ingerência alguma no movimento “autônomo” dos corpos. As conclusões de Cunningham foram que os corpos de insetos podiam seguir vivos sem a guia de suas cabeças, as quais não reagiam aos novos cérebros.

Hoje em dia este procedimento faz parte das pesquisas entomológicas, por mais estranho que pareça ao senso comum. As funções corporais na maioria das espécies requerem, segundo os mesmos, informação tanto dos corpos como dos cérebros; isto não parece ser verificável em mamíferos, naturalmente, concretamente em humanos, mas os insetos não padecem de nosso apego a um corpo unitário.

Um dos mais estranhos experimentos demonstrou que os cérebros dos insetos não necessariamente têm que estar unidos à cabeça. Ao estudar os hábitos de crescimento de certa espécie de mariposa, os pesquisadores descobriram que seu corpo só lhe indica que deve “crescer” quando sente uma mudança na temperatura, isto durante o primeiro inverno de vida. Para comprovar isto, submeteram os cérebros de algumas mariposas a temperaturas muito frias, e posteriormente foram reenxertados nos abdomens dos corpos. Os cérebros segregaram os hormônios necessários para que os corpos dos insetos se desenvolvessem ao estado adulto, ainda que o estudo não acrescenta se as mariposas podiam seguir “sua vida normal” com o cérebro colado no abdômen.

Ainda que a perspectiva ética com respeito à realização destes experimentos em mamíferos (incluindo humano) implica considerações diferentes às dos insetos, a verdade é que estes experimentos nos mostram que nem toda a informação necessária para o crescimento e desenvolvimento dos corpos se encontra na cabeça. E, mais estranho, que a ciência em certa ocasiões realiza experimentos que dignos de voar cabeças, ainda que, ao amparo da razão.

Via | io9.


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