Obsolescência induzida: como a falsificação de marcas pode ser positiva para as marcas
O estudo de como nasce uma moda ou tendência social e se propaga rapidamente pelo cérebro coletivo é algo fascinante, ainda que muito incompleto. As pessoas, em definitiva, distinguem-se das outras usando marcas, mas ao mesmo tempo aproximando-se dela: em realidade afastam-se dos grupos aos quais não quer pertencer e se aproxima dos grupos aos quais quer fazer parte. As marcas são, portanto, um traço de distinção, mas também de mimetismo e diferenciação, simultaneamente.
E essa é precisamente a razão de que a obsolescência induzida seja tão eficaz e interesse tanto às marcas mais espertas, sobretudo no âmbito da roupa e dos complementos.
Por exemplo, imaginemos que eu tenho muito dinheiro ou quero fingir ter muito dinheiro. Dar essa imagem é importante para mim porque quero me misturar com determinada classe social e me distanciar o mais possível de outra que considero inferior. Para isso, adquirirei uma peça de roupa cara que a maior parte das pessoas saiba que é cara, nem que tenha de pagar em 50 vezes.
Tarde ou cedo, cada vez mais terá gente tentando ascender de classe social adquirindo produtos de dita marca, sejam estes verdadeiros ou falsos -recordem que disse que o importante é fingir que temos poder aquisitivo, nem tanto tê-lo realmente-. Quando muita gente comece a usar o mesmo produto que eu, finalmente terei que mudar de produto para voltar de novo a desbancar-me: afinal de contas, se muita gente está se vestindo como eu e usa minhas marcas, de nada serve que me foda gastando tanto o dinheiro porque já não posso enviar uma mensagem eloquente sobre o que sou e a que classe social pertenço.
Isto é, a falsificação de marcas, sobretudo do mercado Chinês, além de ser um delito também desvaloriza minhas aquisições. No entanto, nem tudo são obstáculos: para os criadores de produtos exclusivos resulta economicamente muito rentável que existam falsificadores, porque conquanto isso provocará que muita gente prefira a falsificação ao original (perdem vendas potenciais), realmente a maior parte das pessoas que compram falsificações nunca adquirirá o produto original. Mas aí reside um benefício para a marca original: os consumidores requererão novos produtos originais e caros para que não se confundam com as falsificações, com o qual a empresa ainda ganhará mais dinheiro.
Os professores de direito Karl Raustiala e Christopher Springman acunham esta situação como "paradoxo da pirataria". O editor da Wired Chris Anderson assinala assim em seu livro Free:
"O paradoxo surge do dilema básico que sustenta a economia da moda: os consumidores têm que gostar dos desenhos deste ano, mas também devem ficar rapidamente insatisfeitos com eles para que comprem os desenhos do ano seguinte.
Diferente da área de tecnologia, por exemplo, as empresas de roupa não podem argumentar que os desenhos do ano seguinte são funcionalmente melhores, só parecem diferentes. De maneira que precisam alguma outra razão para conseguir que os consumidores percam seu gosto com os modelos deste ano.
A solução: uma cópia em massa que converta um desenho exclusivo em um artigo de mercado massificado. A mística do designer fica destruída pela ubiquidade barata, e os consumidores com critério devem começar a busca de algo exclusivo e novo... de novo."
Da mesma forma, estes grandes empórios da moda, pagam e fornecem produtos para formadores de opinião, entre eles o típico tolo que se repete uma e outra vez dizendo que calça jeans e camiseta branca um dia já foi moda, como forma de creditar uma "porcaria" que alguém (que paga) diz que é tendência e o tonto vai atrás. Sobre a área tecnológica não há nem o que falar, mas só como exemplo cito o caso de jovens que compram o celular de marca em prestações. Toda vez que acabam de pagar um modelo, outro é lançado e lá vai o coitado fazer dívida de novo só para estar na moda, para fazer parte de um coletivo que a cada dia é mais ridicularizado.
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Comentários
Muito bom, já ouvi isso com meu queridíssimo professor de geografia.
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