Cientistas que foram perseguidos pela religião
A religião já não costuma pisar o jardim da ciência sob pena de perder seu status -cada vez mais manchado, é necessário dizer-: quando a religião afirma fatos e estes entram em conflito com a evidência científica, então a religião perder adeptos e isso não é bom para manter a sacolinha cheia. No entanto, algumas vezes em que a religião tomou partido nas afirmações científicas, suas maneiras foram, para não ser grosseiro, um tanto agressivas. Queimaram, torturaram, mataram, essa classe de agressividade.
Por exemplo, Giordano Bruno comeu o pão que o diabo amassou por crer, entre outras coisas, que a Terra girava ao redor do Sol e não ao contrário (ainda hoje há quem defenda esta ideia), como asseguravam determinados credos religiosos. Bruno ficou 8 anos preso enquanto julgavam o mérito de sua acusação de traidor e herege. Muitas vezes ofereceram o perdão se caso se retratasse de suas opiniões, mas ele sempre se negou. Sabendo que ia ser queimado vivo, seguiu com seu firme apego ao que ele considerava verdadeiro. (Se fosse comigo, confessava que era geocentrista desde criancinha. ;-))
Wiliiam Tyndale também passou por maus bocados por traduzir a Bíblia ao inglês. E também foram perseguidos ou proibidos pela Igreja cientistas e pesquisadores como Copérnico, Kepler e Descartes.
A vítima mais famosa da Inquisição provavelmente seja Galileu, ainda que, ao final, teve um final bastante "afortunado": só lhe "mostraram" os instrumentos de tortura e lhe concederam a oportunidade de retratar-se por ter acreditado que o Sol é o centro do mundo e está imóvel, e que a Terra não é o centro e se move.
É natural que Galileu se retratasse, não era louco. Muitos de nós teríamos feito o mesmo ante a simples visão do potro. Pois se crê muito valente, prestem atenção à descrição que o escritor e viajante William Lithgow, contemporâneo de Galileu fez do potro:
"Ao acionar a alavanca, a força central de meus joelhos contra as duas tábuas partiu-me ao meio os tendões dos músculos, e as rótulas dos joelhos acabaram esmagadas. Meus olhos saltaram das órbitas, espumava pela boca e rasqueava os dentes como o retumbar de um tambor. Meus lábios tremiam, gemia com veemência e o sangue brotava-me dos braços, mãos, joelhos e tendões rompidos. Depois de liberar dessas dores cruciantes, largaram-me no chão com as mãos atadas e essa incessante súplica: 'Confessa! Confessa!'"
Quem não confessaria?
Esgrimir crenças com um sustento epistemológico débil e uma alta carga sentimental, como em geral ocorre com o patriotismo, a língua ou o futebol, é bem espinhoso, porque as razões que as defendem não podem ser discutidas racionalmente e porque resultam muito frágeis às novas descobertas, de maneira que, tal e qual explica o psicólogo cognitivo Steven Pinker em seu livro "The Better Angels of Our Nature", não importa a crença, ao final o fundamentalismo pode atingir qualquer indivíduo:
"Ainda que muitos protestantes eram vítimas de tais torturas, quando gozaram da posição dominante, infligiram com o mesmo entusiasmo a outros, incluídas cem mil mulheres que, entre os séculos XV e XVIII, morreram queimadas na fogueira acusadas de bruxaria. [...] A tortura institucionalizada na cristandade não era só um costume irreflexivo; tinha fundamentos morais. Se uma pessoa cria que não aceitar Jesus como salvador supunha uma passagem para o abrasador castigo eterno, torturar uma pessoa até que admitisse esta verdade equivalia a lhe fazer o maior favor de sua vida, ou seja, melhor sofrer agora do que por toda a eternidade. E calar uma pessoa antes de que corrompesse outras, ou se convertesse em um exemplo para dissuadir os demais, era uma medida responsável de saúde pública."
Felizmente, esses tempos escuros já passaram. As pessoas continuam se ofendendo e melindrando em suas crenças, básico, afinal ofender-se é um efeito colateral da liberdade de expressão, mas já não decidem torturar ou matar aos que afirmam algo que não lhes parece oportuno -ainda que ainda existam algumas teocracias onde isso ainda não é assim-. A maioria dos cristãos devotos nas sociedades modernas são pessoas completamente tolerantes e bacanas.
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Comentários
Muito bom esse artigo, o inacreditável é que, em pleno século XXI observamos um avanço do obscurantismo religioso,mas de uma maneira diferente, em tempos pós modernos às religiões se adaptaram para sobreviver, hoje já não renegam à ciência,isso as faria cair no ridículo,fazem uso dela para 'justificar' seus devaneios sobrenaturais, observo cada vez mais religiosos de todas as denominações terminarem seus cultos, sermãos ou seja lá o que for da seguinte maneira. 'Não é minha opinião,é à ciência que está dizendo'.haja paCIÊNCIA.
Todas as religiões são brutais, não admitem a verdade e mesmo no século presente (XXI) em que as mulheres e homens têm dado um monstruoso avanço no conhecimento, basicamente na explicação dos porquês das coisas, torna-se evidente que as religiões pretendam acéfalos porque são vulneráveis e deste modo melhor se controla o "rebanho" com a submissão e papão dos deuses. Logicamente que estes controladores de vontades, uns conscientes, outros porem conscientes também não desejam perder as suas mordomias e alguma riqueza que advém destas "ovelhas" semelhantes ao mesmo animal em Q.I.. Sem pretender invocar Lénine por admiração (não gosto de ditadores nem monárquias), mas ele tinha uma feliz frase "A religião é o ópio do povo". Dizem que saber não ocupa lugar, mas sinceramente acredito que, quem sabe vai no pelotão da frente! Bem hajam as mentes BRILHANTES!
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