A diferença entre um bom pesquisador e um mau pesquisador
Como já escrevi em outros artigos, algumas pessoas tem um feio costume de atacar a ciência, sem saber citar ao menos um argumento sobre o assunto. Desconhecem, ou se fazem de tontos, que a ciência dispõe de alguns protocolos dificilmente criticáveis e que são os cientistas, as pessoas, que às vezes a usam malevolamente.
O melhor exemplo para discernir entre um bom cientista ou um mau cientista (isto é, entre um pesquisador que emprega corretamente os protocolos da ciência e um que não), é a história de Wilhelm Conrad Röntgen, um físico alemão que em 8 de novembro de 1895 produziu radiação eletromagnética no comprimento de onda correspondente ao que chamamos atualmente de raios X. Mas Röntgen tentou por todos os meios demonstrar que ele estava equivocado.
Um pesquisador de fenômenos pseudo-científicos raramente apresentará seus indícios com essa modéstia, levando em conta que está desafiando o conhecimento acumulado durante séculos: simplesmente afirmará que descobriu algo e que a ciência ortodoxa é muito cega para admitir que tem razão ou outro destes argumentos vagos, próprios de quem tem pouco à contribuir e ponto
Röntgen, no entanto, não deixou de confiar no método científico. Durante seus experimentos, descobriu que podia ver através das coisas, como um super-herói. Testou com objetos dentro de caixas de madeira e também conseguiu vê-los. O momento mais assustador foi quando viu boquiaberto os ossos de sua própria mão. Mas Röntgen não correu imediatamente aos meios de comunicação para anunciar sua descoberta. Sabe o que pensou?
- "PQP, estou ficando louco!", sim, o bom Röntgen achou que tinha pirado o cabeção.
O relevante de Röntgen é que sua atitude não violou nenhum ápice do método científico: em vez de saltar à conveniente conclusão de que havia descoberto algo radicalmente novo, pensou que tinha cometido algum erro. De maneira que não publicou uma só linha desafiando o conhecimento de seus colegas: encerrou-se em seu laboratório durante sete semanas a fio. Deu folga para seus ajudantes e mergulhou de cabeça na sua decoberta, mal dormia e passou a se alimentar meio que a contra-gosto engolindo a comida -por insistência da família-. Só queria replicar o experimento uma vez e outra até ter certeza de que estava realmente correto.
Quando enfim se deu conta que podia repetir o fenômeno (sim, era um fenômeno para aquela época) de trás para a frente, Röntgen saiu de seu laboratório com aspecto quase cadavérico e informou seus colegas de todo o mundo sobre os "raios Röntgen". Naturalmente, duvidaram dele, Mas Röntgen teve paciência e modéstia necessária, e a cada vez que alguém objetava algo, demonstrava por A+B dizendo ou provando que já tinha pesquisado essa possibilidade, até que ao fim seus colegas ficaram satisfeitos e se renderam a sua descoberta.
Algo similar ocorreu recentemente quando pensaram ter descoberto partículas que viajavam mais rápido que a luz. Os pesquisadores do CERN responsáveis pelo achado publicaram seus resultados para que todos os cientistas do mundo pudessem analisá-los, pediram ajuda para enfim descobrir que estavam equivocados. Porque os fenômenos extraordinários requerem de provas extraordinárias, assim como aconteceu com a descoberta do esperado bóson de Higgs.
Estas edificantes histórias sobre pesquisa científica deveriam ser recordadas por aqueles que defendem até a morte práticas pseudocientíficas como astrologia, busca interior, conscienciologia, criptozoologia, cura pela fé, design inteligente, esoterismo, gnose, grafologia, homeopatia, mapa astral, numerologia, projeciologia, quiromancia, rebieth, reiki, tarô e mais um monte de bobagens que costumam invadir vergonhosamente o campo científico.
Por que vergonhosas? Porque são técnicas tolas cujos postulados violam leis fundamentais da física, que não têm um corpo teórico sólido que as respalde, ineficazes na maioria dos ensaios clínicos, baseadas em pesquisas antigas ou em tradições pré-científicas, etc. O problema é que os defensores de tais práticas alegam que a ciência é fechada, afirmam alegremente que já viram funcionando e, o pior, que praticam em seus pacientes: coitados!
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Comentários
Interessante, ainda hj com todo o conhecimento acumulado, pessoas se iludem com falsários e charlatões mundo a fora.
Não basta ir longe, aqui perto de onde mora tem um charlatão dos bons, cada dia mais rico, o "João de Deus", esse ai engana muita gente com sua "Mágia".
P.S: acho que as pessoas querem ser enganadas, muitas vezes é desespero mesmo, outras é ignorância.
Puts, me expressei mal. Eu quis dizer: 'Não sei se meu aplausos valem, mas tou aplaudindo', algo assim rsrs.
Adrianinha, me expressei mal com você também: eu entendi que os outros é que confundem com Ciência, não você. Quis dizer que não é pra ficar se importando com isso. Tem alguns teólogos que são bem legais, inteligentes, sabem separar as coisas e que você não deveria se importar com os babacas que confundem isso. Esse importar-se é mais um problema seu do que deles. Pronto, era isso que queria dizer.
Poxa, o texto foi muito bom. Não sei se vale alguma coisa, mas merece aplausos.
Agora... Adrianinha, Teologia é quase um estudo sobre linguagem. Nesse caso, sobre a linguagem bíblica. Bem, pelo menos esse é o foco. Confundir isso com Ciência é mais um erro seu que dos outros.
Fatou falar da teologia como pseudociência. Tem gente burra que acredita que esta coisa boba serve para alguma coisa.
Eu queria fazer alguma descoberta do tipo que Wilhelm Conrad ou outro grande cientista fez... Só assim o interesse pela pesquisa me faria ficar fechada em meu laboratório por semanas, sem pensar em me alimentar, e, consequentemente conseguiria perder alguns quilinhos...
Hã... mas, o que seria de nós sem esses marvilhosos e incansáveis cientistas ?
Meu professor de Física contou um pouco sobre essa história. Cientista dedicado.
Quanto ao penúltimo parágrafo, duvido muito que tais defensores adotem tal postura, pois a diferença entre as metodologias é gritante: cientistas sérios repetem os procedimentos, pois a dúvida lhes é um grande aliado para o esclarecimento; ao passo que os tais "profissionais" nem mesmo consideram e toleram a sua mera possibilidade.
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