Chimp Heaven e santuários onde animais vivem como reis
Há lugares que só parecem existir em um ambiente de ficção científica no qual os animais dominaram a humanidade (como no filme Os Planetas dos Macacos), no entanto, existem locais dedicados a estes animais onde realimente reinam em paz. É o caso, por exemplo, do Chimp Heaven, um refúgio criado por um grupo de primatologistas encravado na Ilha de Ngamba, em Uganda.
Seus residentes são chimpanzés aposentados. Artistas retirados e cobaias que passaram toda sua vida enclausurados em laboratórios, a mercê de toda classe de experimentos médicos, como o ensaio de novos medicamentos. Nesta área de 200 hectares de pastos, bosques e recantos naturais, os chimpanzés vivem como reis e uma equipe de profissionais qualificados devolve-lhes com justiça o que todos lhes devemos.
Um santuário que conta com seu próprio veterinário, uma zona dedicada a jogos para estimular a inteligência dos primatas e assim evitar os achaques da terceira idade no cérebro, um ginásio para que se mantenham em forma e até uma habitação chamada Casa da Vovó, que é onde vive a chimpanzé mais idosa do complexo.
Este éden para símios aposentados é mais necessário do que parece, pois muitos dos chimpanzés usados em laboratórios, que se contam por milhares, não podem ser admitidos pelos zoológicos, que não são suficientes, nem também podem ser soltos de volta a natureza, pois já perderam as habilidades para se alimentar e se proteger por si mesmos.
Vários grupos conservacionistas de todo mundo, liderados pelo Instituto Jane Goodall e o Projeto Grande Símio, obtiveram para eles em 2008 a Chimp Heaven Act, uma lei que proíbe que os chimpanzés que colaboraram em estudos médicos ou científicos voltem a ser usados para os mesmos fins.
Mas o Chimp Heaven não é o único refúgio para chimpanzés aposentados do mundo: na África, por exemplo, também encontramos o centro de recuperação de Tchimpounga. Pode parecer um disparate, mas fico mais tranquilo sabendo que Chita, que tantos bons momentos me fez passar nos filmes de Tarzan, cuja longevidade já superou à de todos seus colegas de partilha, está desfrutando de um merecido retiro (ainda que por prescrição facultativa já não pode se beber os copos de uísque que costumava tomar nas sobremesas).
Após tudo, se torna lógico que existam esta tipo de lugares se temos em conta o grande apoio do que já goza o Projeto Símio, a proposta de conceber uma Declaração sobre os Direitos dos Grandes Primatas que, entre outras coisas, incluiria um acordo para que seja considerado crime matá-los (salvo em defesa própria), bem como a proibição de tortura sob qualquer conceito.
Santuários como Chimp Heaven começam a proliferar por todo mundo e com outras classes de animais, como a reserva de Sundarbans, uma ilha do Golfo de Bengala na qual os tigres desfrutam de uma aposentadoria com todas as despesas pagas em um hábitat natural de 45 hectares com o acompanhamento de uma equipe de veterinários e tratadores.
Na região indiana de Kerala, onde o elefante é um animal sagrado, existe o mais importante centro geriátrico para elefantes, um santuário com uma capacidade para 30 indivíduos promovido pelo Departamento de Vida Silvestre.
Também há países inteiros que funcionam como paraísos celestiais para certos animais, como é o caso da Índia, onde seus habitantes são capazes de morrer de fome antes de meter o dente em uma vaca. Uma atitude reverencial que explica assim o antropólogo Marvin Harris em Vacas, Porcos, Guerras e Bruxas: os Enigmas da Cultura:
- "O amor às vacas afeta à vida de muitas maneiras. Os servidores públicos do governo mantêm asilos para vacas nos quais os proprietários podem alojar seus animais magros e decrépitos sem despesa alguma. Em Madras, a polícia reúne o gado extraviado que está doente e cuida dele até que recupera a saúde, permitindo com que pastem em pequenos campos adjacentes à estação de ferroviária.
Os agricultores consideram suas vacas como membros da família, enfeitam-nas com guirlandas e borlas, rezam por elas quando ficam doentes e chamam seus vizinhos e um sacerdote para celebrar o nascimento de um novo bezerro.
Em toda a Índia os indianos penduram em suas paredes calendários que representam mulheres jovens, formosas e cheias de jóias, que têm corpos de grandes vacas brancas e gordas. O leite emana dos ubres destas deusas, metade mulher, metade vaca."
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