Homeostase de risco ou porque, às vezes, uma solução acaba sendo um problema?
A homeostase de risco é uma hipótese sobre risco, desenvolvida por Gerald JS Wilde, professor emérito de psicologia na Universidade de Queen, Kingston, Ontário, Canadá. Esta hipótese sustenta que todo mundo tem o seu próprio nível fixo de risco aceitável. Quando este nível de risco varia, haverá um correspondente aumento ou redução do risco em outros lugares para fazer com que o risco volte ao equilíbrio. Wilde argumenta que isto é válido mesmo para os modelos sociais em grande escala, que devido a sua complexidade, pode ter consequências inesperadas por causa de uma pequena mudança introduzida em seu meio.
Por exemplo, imaginemos que queremos reduzir o número de acidentes de trânsito. Se alguém sugere implementar nos carros o sistema de freios ABS, provavelmente pensaremos que é uma boa ideia para evitar acidentes. Mas um experimento demonstrou que acontece justamente o contrário.
Foi o chamado Experimento do taxista de Munique, realizado no final de 1980. A metade da frota de uma companhia de táxis de Munique foi equipada com o novo sistema de freios ABS, a outra metade não. Os pesquisadores descobriram que a maioria dos táxis envolvidos em acidentes eram justamente os carros equipados com ABS.
Para verificar o que ocorria, instalaram um tipo de caixa preta nos táxis que registrava toda a informação da condução. Os taxistas também podiam ter a companhia de observadores que tomavam nota de sua conduta; mas os taxistas não sabiam quem era observador e quem não o era, e os observadores não sabiam também se o táxi tinha ABS ou não.
Todos os dados sugeriam o mesmo: os motoristas mudaram rapidamente sua forma de conduzir pela presença do ABS e essa mudança acabava por completo com os benefícios proporcionados pelo novo sistema de freios. Uma vez que descobriram que a distância efetiva de freada era mais curta, começaram a conduzir colados no carro da frente, fazer mudanças de pistas mais bruscas, a conduzir mais rápido e, em geral, a ser menos cuidadosos. O novo "equipamento de segurança", longe de tornar os carros mais seguros, em realidade fez com que se tornassem mais perigosos, simplesmente porque sua presença mudava o comportamento dos motoristas ao volante.
Em um sistema tão complexo como a sociedade em seu conjunto, a relação causa efeito se diluem, de modo que é difícil averiguar que medidas são as apropriadas para atalhar um problema ou se realmente o problema foi atalhado por essas medidas ou por outras das quais não somos conscientes. No mundo do trânsito ocorrem continuamente estas coisas.
Por exemplo, imaginem que queremos solucionar o problema de engarrafamentos nas avenidas de acesso a uma grande cidade. A lógica impõe que só há que construir mais estradas e voilá: problema solucionado. No entanto, sempre que constroem (ou alargam) novas vias, o trânsito cresce em pouco tempo (as pessoas, ao descobrirem que está mais fácil circular, simplesmente começa a usar mais o carro).
No mesmo sentido, parece que o apoio ao transporte público seja a panaceia aos engarrafamentos das vias pública. No entanto, não é exatamente assim. Mais transporte público eficiente e barato, menor número de carros nas ruas... mas em pouco as pessoas percebem que tendo menos carros nas ruas, aumenta a comodidade à hora de circular, atravessa-se a cidade mais rápido gastando menos combustível e finalmente ir de carro é sempre melhor que ir em transporte público. Assim logo logo as vias voltam ao estado de engarrafamento anterior ou inclusive pior.
Algo parecido pode ser dito em relação aos países que conduzem pela esquerda. Pensamos que se obrigarmos esses países a conduzir pela direita provocaremos toda classe de acidentes até que se acostumem. No entanto, o efeito é justamente o contrário: reduz-se consideravelmente o número de acidentes porque as pessoas passam a dirigir com mais medo e precaução (até que se acostumam à nova forma de condução).
Via | Queen University.
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Comentários
Eu li algo parecido com isso. Um fisico matematico usou uma de suas equações no transito e chegou a incrivel conclusão, que as unicas coisa que influi na estatistica das mortes no transito é a quantidade de carros, o tamanho da população e o tamanho das cidades.
Medidas de segurança, excesso de velocidade, alcool, educação, pais ser desenvolvido ou não, nada disso afeta significativamente as estatisticas para ser maior do que ruido estatistico.
Somente as 3 variaveis, que formam um sistema, uma equação homeostatica que faz com que medida individual alguma (como por ex, cota zero de alcool) faça com que mortes no transito diminua. Por incrivel que pareça, o unico jeito de diminuir as mortes é mexer em algumas das variaveis, como o numero de veiculos, ou o tamanho das cidades, ou o tamanho da população.
www.nytimes.com/2010/12/19/magazine/19Urban_West-t.html?pagewanted=all
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