Heureca! Não existem inventos individuais
Às vezes perdemos nosso precioso tempo em debates de quem foi o inventor disso ou daquilo. Por exemplo, os primeiros em voar foram os irmãos Wright ou Santos Dumont? São debates um tanto improdutivos e ademais partem de uma premissa falaz: que as coisas são inventadas por uma única pessoa, como se tivesse sido tocada por uma inspiração divina, quando a história nos demonstra que é ao contrário: os inventos individuais não existem, e geralmente estão a ponto de descobrir em outros pontos do mundo justo quando se descobrem em algum lugar.
Porque os inventos não são mais que ideias materializadas. E as ideias voam de cabeça em cabeça como vírus. E as ideias não têm dono: as ideias são reformulações de outras ideias que tomamos emprestadas. Assim como o sentido dos direitos autorais que cada vez tem menos validade em um mundo no qual copiar informação é muito barato (e no qual para abrir canais de criatividade é necessário que se possa copiar facilmente), os inventores e seus inventos só são engrenagem de uma longa cadeia de causas e efeitos. Mas claro, a gente sempre tende a buscar heróis individuais, a gente quer um Heureca, um Edison, uma Madonna a quem render homenagem.
Para refletir entre todos sobre estes procelosos temas sobre originalidade e invenção, desloquemos a um lugar onde a arte adquire outra dimensão: Dafen, o povoado onde se falsificam 70% de todas as pinturas do mundo. Sentemo-nos em uma lanchonete, rodeados de réplicas de Van Gogh, Rubens e Rothko, e comecemos.
Por enquanto só se dispõe de umas poucas teorias biológicas a respeito do florescimento da arte na cultura humana. A mais aceita é a que postula que a arte seria um subproduto de outras três adaptações biológicas: a ânsia de status, o prazer estético de experimentar com objetos e meios adaptativos e a capacidade de desenhar artefatos para obter os fins desejados.
Mas vamos centrar-nos na ânsia de status. A arte manifesta nossa capacidade de imitar os demais: a originalidade só é uma boa imitação e uma boa cópia do já existente. Os genes do bom imitador são muito atraentes para o sexo contrário, porque a imitação inteligente é imprescindível para a aprendizagem (uma atividade que resulta tremendamente complexa mas que realizamos com naturalidade pouco tempo depois de nascer). O chamativo para o sexo contrário não é a imitação perfeita senão a suficiente flexibilidade de capturar o substancial e contribuir modificações que se adaptem às circunstâncias. Como uma receita de cozinha.
Algo similar acontece com os inventos. Por exemplo, diz-se com frequência que James Watt inventou a máquina de vapor em 1769 supostamente inspirado por ter observado o vapor sair pelo bico de uma chaleira. Esta maravilhosa fábula é desmentida pela realidade de que Watt concebeu a ideia de sua própria máquina de vapor enquanto consertava um modelo da máquina à vapor da Newcomen, que este tinha inventado 57 anos antes e da qual já tinham fabricado mais de cem na Inglaterra na data em que Watt realizou sua tarefa de reparo.
Sem dúvida tudo isto recorda suspeitamente à necessidade do homem por achar um Autor, um Criador do mundo e de todo o que está contido nele. O Autor ou o Inventor é uma versão laica de Deus. Tudo isto não significa negar que Watt, Santos Dumont, os irmãos Wright, Morse ou Whitney realizaram grandes melhoras e, com isso, incrementaram ou inauguraram grandes sucessos comerciais. A forma do invento que com o tempo se adotou poderia ter sido algo diferente sem a contribuição reconhecida do inventor. Mas o problema reside em saber se o panorama geral da história mundial teria experimentado alterações significativas se algum dos gênios inventores não tivesse nascido em um lugar e uma época determinados. A resposta é clara: nunca existiu tal classe de pessoa. Todos os inventores famosos reconhecidos tiveram predecessores e sucessores capacitados que por sua vez também tiveram outros predecessores não tão capacitados mais envolvidos com a mudança e a criação, introduzindo suas melhoras em uma época em que a sociedade era capaz de utilizar seu produto daquela forma.
A ideia que se defende aqui é que todas as obras se desenvolvem por acumulação. Ninguém gritou Heureca! E se o fez, foi bastante egocêntrico para dar-se conta de que só ele estava transmitindo aquilo que lhe rodeava e que poderia ter sido feito por qualquer um antes ou após ele.
Por suposto, o debate complica-se se acrescentarmos o conceito das patentes. Bem, talvez biologicamente, psicologicamente ou até mimeticamente careça de sentido apontar apenas uma pessoa como autor de um invento. Mas se não for feito assim, então como vamos incentivar os inventores a seguir adiante se mais tarde não poderão ser recompensados econômica ou socialmente?
Bem, esse tema daria para outro artigo. Em qualquer caso, podemos atingir determinados consensos sobre temas complexos simplesmente para que a sociedade siga adiante, ainda que depois seja possível discutir academicamente outras compensações para atingir consensos melhores.
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Comentários
Hoje em dia não se faz inventos,o que acontece é que damos uma reformulação em ideias que estão presentes atraves da historia da humanidade,que em seu devido tempo aflora, uma pessoa da continuidade logica a um projeto.muitos inventos como os foguetes ja eran fabricados pelos chineses,a mas de milenio.Santos Dumos não criu o avião,ele deve ter tido uma inspiração em Leonardo da Vinci e este por sua vez nos chineses,ele foi genial no sentido de colocar um motor em nele para poder sustentar ele no ar,o motor a explosão ja existia na epoca.As formulas matematicas não são de agora existen a mas de 2000 anos atras.
Se essa matéria fosse verdade!!!, pq Demorou
uns 200 Anos para q os matemáticos descobrissem a equação de 3° grau?, não quer admitir a existência de gênios em épocas diferentes meu caro. em resumo nem todos são capazes, exisre um grau de memoria com bastante diferença na humanidade, esse negócio de dizer que todos nascem com a mesma capacidade esso é conversa de psicólogo !!!!!
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