Quando cruzamentos improváveis geram híbridos férteis
Orquídeas
Existem mecanismos que inviabilizam, dificultam ou impedem o cruzamento e troca de genes entre espécies diferentes. Um exemplo interessante é o que ocorre com duas espécies de patos que nidificam próximos, Anas platyrhinchos e Anas acuta, mas não cruzam e não trocam genes entre eles, pois, entre outros fatores, respondem a estímulos diferentes. Quando há cruzamento entre espécies distintas, o embrião híbrido pode ou não desenvolver. Se a célula germinar, o híbrido pode ser fértil ou estéril. Os híbridos férteis podem gerar prole saudável ou debilitada. O cruzamento entre espécies diferentes (há limites e elementos favoráveis para que o processo aconteça.) ocorrer tanto em laboratório, usando técnicas de engenharia genética, quanto de forma natural e espontânea na natureza.
Segue uma lista de plantas e animais híbridos:
• Bardoto - cavalo e jumenta.
• Cama - dromedário (Camelus dromedarius) e lhama (Lama glama).
• Jagleão - onça-pintada (Panthera onca) e leoa (Panthera leo).
• Leopon - leopardo e leoa.
• Ligre - leão (iPanthera Leo) e tigresa (Panthera tigris).
• Servical - lince caracal fêmea e serval macho.
• Mula - jumento e égua.
• Pintagol - pintassilgo com canário.
• Pumapardo - (Puma concolor) e fêmea de leopardo (Panthera pardus).
• Tambacu - pacu-caranha e tambaqui.
• Tigreão - tigre e leoa.
• Gato de Bengala - gato doméstico (Felis sylvestris catus) e um gato-leopardo-asiático (Prionailurus bengalensis).
• Tursiops truncatus x Pseudorca crassidens - golfinho e falsa-orca.
• Zebralo - zebra e égua.
• Zebrasno - zebra e jumento.
• Ovabra/cabrelha - ovelha doméstica (Ovis aries) e cabra doméstica (Capra hircus).
• Grolar - urso polar e urso pardo.
• Tangelo - híbrido de uma tangerina com uma toranja.
• Toronja - híbrido de uma pomelo com uma laranja.
• Triticale - híbrido de trigo com centeio.
A ideia de híbridos férteis sempre foi pouco aceitável porque, em geral, espécies diferentes apresentam números distintos de cromossomos. A diferença poderia inviabilizar o desenvolvimento do embrião devido a falta de alinhamento cromossômico com um equivalente na hora da célula fertilizada se dividir. Sem esse alinhamento a célula morre. Mas há exceções que parecem ser menos raras do que se imaginava. O cruzamento entre plantas – ou animais – de espécies próximas pode gerar descendentes viáveis - híbridos férteis, mesmo sem total alinhamento dos cromossomos. Se tiverem tempo e condições ambientais favoráveis, esses híbridos podem gerar espécies diferentes das que lhes deram origem.
Savannah - gato doméstico e serval africano (Leptailurus serval).
Um exemplo de híbrido fértil é a orquídea da Mata Atlântica. Ela tem 38 cromossomos, é uma resultante do cruzamento natural entre duas espécies selvagens, Epidendrum fulgens, com 24 cromossomos, e Epidendrum puniceolutem, com 52. Mas, só a genética não basta para reconhecer os híbridos férteis, é necessário avaliar os aspectos dos ambientes onde os híbridos e as espécies que lhes deram origem vivem. Estudar a geologia e as variações climáticas, se aproximações ou afastamentos de populações de plantas ou animais, beneficiaram ou não a formação de novas espécies. No caso das orquídeas citadas, os híbridos viviam tanto na restinga quanto nas dunas. Essa versatilidade excepcional sugere que algumas regiões do genoma podem ser trocadas entre essas espécies, conferindo ao híbrido capacidade maior de aproveitamento do habitat.
Caracal - serval fêmea e lince caracal.
Os lugares mais prováveis em que os híbridos podem surgir são os espaços que reúnem populações de espécies próximas de plantas ou animais que antes viviam separadas. Nas zonas de transição ecológica (ecótonos), que combinam dois tipos de vegetação e favorecem o encontro de populações de plantas e animais antes geograficamente distantes. A consequência dos processos que levaram à separação das espécies, favorecendo o cruzamento ou hibridação entre espécies próximas, traz um caldeirão de novas espécies em contínua transformação. Agora se vê que novas espécies podem resultar também do agrupamento de populações de espécies diferentes que antes viviam separadas. O isolamento favorece a diversidade genética e a diferenciação de espécies, ao longo de milhares ou milhões de anos.
Ácida e amarga toronja.
Nosso amigo Darwin já tinha escrito que os híbridos podem ser estéreis ou férteis, mas não tinha como provar, porque não havia marcadores moleculares para identificar as assinaturas genéticas de híbridos férteis. Aparentemente a hibridação é bastante comum e parece ter um papel muito mais importante na evolução do que imaginamos.
Talvez as mudanças climáticas tornem a hibridação um processo evolutivo em larga escala e de maneira acelerada. Há um grande perigo para a biodiversidade das espécies e o equilíbrio biológico. À medida em que atividades antrópicas derrubam barreiras naturais, e vão destruindo, modificando e criando novos habitats, as espécies são forçadas a se adaptarem às novas condições, as que não conseguem, entram em extinção, modificando também as cadeias alimentares.
Via | Fapesp.
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