Alguém acha que a NASA está acabada?
Certamente recordam Bruce Willis no papel do tenente McClane, lambuzado de barro e gordura até as sobrancelhas, preso entre as tubulações do arranha-céu, fugindo daqui para lá, e ainda assim, sem sapatos e com os pés em pandarecos, ia se livrando dos homens maus um a um enquanto dizia para si mesmo "Seguem te subestimando, John".
Isto costuma ocorrer às vezes quando ninguém já acredita no que possa fazer, essa etapa na qual todos acham que está acabado e a única coisa que te resta é se abandonar ao esquecimento em algum lugar tranquilo para não molestar... e de repente, do nada, surge o gênio e chega a obra mestre.
Aconteceu com Marlon Brando no início da década 70. Poucos queriam contratá-lo: seu caráter havia azedado, suas excentricidades deixavam loucos os escassos diretores que se atreviam a contar com ele, engordou muito jogando por terra sua imagem de galã e ademais seus últimos filmes tinham saldado com um rotundo fracasso de bilheteria.
Quando surgiu seu nome para um projeto da Paramount, os produtores se negaram em rotundo: - "Brando está acabado!", disseram. Apesar do empenho do diretor em contar com ele, os donos do filme puseram todas as imposições possíveis para que o ator recusasse o papel: mudaram seu salário por uma participação nos lucros, advertiram-lhe que teria que pagar ele mesmo todos seus excessos e inclusive obrigaram Brando a realizar uma audição, tratando-o como se fosse um novato. Não serviu de nada, Marlon Brando aceitou todas as condições, rodou aquele filme e se converteu em Vito Corleone, um dos melhores personagens de toda a História do Cinema.
Um ano depois, em 1972, a Academia rendeu-se ante a evidência e concedeu-lhe o Oscar de melhor ator principal por seu papel no Poderoso Chefão, uma das maiores obras mestres da sétima arte.
A NASA encontra-se nestes momentos nos quais, para Brando, foram os anos duros. Muitos vem assinalando as dificuldades pelas quais atravessa a Agência Espacial Estadunidense e alguns inclusive apontam malignos esboços do que poderia significar sua futura decadência. Outras Agências parecem no momento ter a admiração dos meios. A carreira abre-se e novos pretendentes unem-se à exploração e conquista do espaço. Russos, chineses, japoneses…
Fazendo um balanço realista resumimos: A crise econômica
diminuiu o orçamento da NASA a níveis preocupantes. Após ter cancelado seu programa de ônibus espaciais, os americanos nem sequer têm capacidade para lançar missões tripuladas ao espaço. Para isso, têm que enviar seus astronautas ao cosmódromo de Baikonur e pedir carona aos russos em suas antigas, mas sempre confiáveis Soyuz. Seu projeto mais ambicioso, o Telescópio Espacial James Webb, dança na corda frouxa por falta de orçamento e já atrasaram seu lançamento várias vezes, a última data e sempre que os novos recortes não voltem a adiá-lo, está fixado para 2018. A crise econômica está deixando um monte de projetos espaciais na gaveta, adiados ou cancelados, e cobraram já quase 7.000 empregos diretos e indiretos associados à Agência.
A NASA está vivendo maus tempos e ninguém diria que os que vêm vão melhorar. No entanto, e quando poucos davam um tostão por ela, de repente salta o anúncio: os americanos querem voltar à Lua. O programa começaria com uma missão em 2017 com a nave Orion/MPCV orbitando a Lua para dois anos mais tarde, em 2019, realizar a mesma missão, mas com tripulantes. Não parece um grande avanço se levarmos em conta que será o mesmo que já fizeram os astronautas da Apollo 8 há mais de 40 anos, mas vendo como está o panorama atual, significa um avanço prometedor.
Mas... será que a NASA, com seus recursos atuais, poderá fazê-lo? Seguramente é a pergunta que muitos nos fazemos recordando os últimos "hypes mediáticos" com os quais os americanos nos obsequiaram nos últimos meses. Que quer a NASA com este anúncio? É um projeto realizável ou tão somente uma nova tentativa para captar a atenção dos meios e conseguir financiamento? Poderia tratar-se do cão mordendo o rabo: não posso fazê-lo, ainda assim anuncio que vou fazer, todos prestam atenção e consigo o orçamento para realmente fazê-lo.
Enquanto nos enredamos no debate se poderão ou não, podemos dar uma olhada no programa comprovando que o projeto apresentado é abrasadoramente ambicioso e contém inclusive seus pequenos elementos cinéfilos de como enviar um astronauta a um asteroide próximo…
A primeira coisa que se destaca é a aposta pelo SLS, um sistema de lançamento espacial que, após muitas idas e vindas, será o substituto dos já extintos ônibus e que nos devolve à memória a imponente imagem do Saturno V.
A configuração inicial do SLS (Block-1) deveria ser suficiente para enviar o módulo Orion de caminho à órbita lunar em sete anos. A partir daí se abriria um período de ampliações sucessivas do SLS tanto da potência como do carga do foguete, e é aqui onde começa a diversão.
Com o Poderoso Chefão, Brando teve sua oportunidade para demonstrar que ainda era o mestre no que fazia. Ainda está por vir se a NASA conseguirá o papel que lhe leve ao Oscar.
Pessoalmente sou extremamente cético a respeito. Acho que a NASA não está preparada para o que promete. E não é culpa sua: as condições políticas e econômicas que se avizinham na próxima década não deixam lugar para grandes saltos. As grandes empresas espaciais são também grandes apostas econômicas e não tem o pátio preparado para festas.
Não obstante, e talvez, seria bom ainda não dar por morta à histórica Agência esperando que, como o tenente McClane, meio descalça e toda rasgada, a NASA consiga o que me parece impossível ao ritmo de que "seguem te subestimando, John".
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Comentários
Eh preciso fazer o TPC de casa antes. Nao vale de nada estar a enviar homens a Lua qdo nao se tem objectivos concretos. Penso q a NASA esta sofrendo re-estruturacao para uma nova era. Dizia-se que os Russos tinham a melhor tecnologia de Rockets, mas os Americanos tinham a melhor electronica, como resultado os Americanos foram os primeiros a ir a Lua e sao lideres no espaco.
Conclusao : Primeiro deve-se investir nas novas tecnologias para melhor explorar o espaco.
É dificil explicar... Gosta da NASA e tudo que ela se empenha em fazer. O que me mata é ONDE ela esta. O povinho antipático!
Cara, o charme do texto foi a comparação com Brando. Ótimo texto.
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