Os chimpanzés têm consciência de si mesmos e conversam sobre o tempo
Os chimpanzés têm uma clara "consciência de si mesmos" e, como os seres humanos, essa consciência está relacionada a sua faculdade de antecipar os efeitos de suas próprias ações sobre o meio onde vive, revela um estudo cujos resultados foram publicados nesta semana na conceituada revista britânica Proceedings of the Royal Society.
Muitos cientistas já haviam assinalado a capacidade de certos animais, em particular os grandes símios, de reconhecer-se em um espelho. O teste, simples e efetivo, mais utilizado é pintar uma marca no seu corpo que não podem ver sem olhar em um espelho e comprovar se tentam apagar ou não. O teste do espelho provou as capacidades cognitivas dos macacos, mas a controvérsia persistia sobre os mecanismos que permitem que se identifiquem.
Nos humanos, a "agentividade", ou capacidade de reconhecer-se como um agente independente que tem um efeito sobre o meio exterior, procede sobretudo da faculdade de relacionar o resultado esperado de uma ação com o resultado produzido. Por exemplo, em um videogame no qual participam vários jogadores, essa faculdade permite à cada jogador determinar rapidamente que personagem ele controla entre os vários que se movem na tela.
Para dissipar as dúvidas sobre os chimpanzés, dois especialistas japoneses de primatas, Takaaki Kaneko e Masaki Tomonaga, da Universidade de Tóquio, treinaram três fêmeas para que pudessem deslocar um cursor em uma tela com um mouse. Uma vez familiarizadas com o manejo da ferramenta, apresentaram na tela dois cursores de tamanho forma e cor idênticos: um controlado em tempo real pelo mouse e o outro era uma simples gravação do cursor deslocado pela mesma macaca nos dias precedentes. Isto é, o único meio que o chimpanzé teria para identificar o cursor que ele controlava era confrontar sua ação com o resultado mostrado na tela.
Segundo os cientistas japoneses, os testes são concludentes e demonstram que os chimpanzés analisam os efeitos de suas ações sobre o mundo exterior. Os resultados sugerem que os chimpanzés e os humanos compartilham os mesmos processos cognitivos fundamentais, têm uma clara consciência de si mesmos, segundo concluem os cientistas.
Os macacos falam do tempo, mentem e criticam
Por sua vez, o casal estadunidense formado por Deborah e Roger S. Fouts dedicou sua vida a combater a ideia de que a linguagem é o "último bastião" da singularidade humana e o resultado eles mostram nos mais de 40 anos de trabalho com chimpanzés que não apenas aprenderam a se comunicar com a linguagem de sinais, senão a mentir, a dizer "estou triste", a pedir perdão e inclusive a fazer poesia.
Os Fouts continuaram os trabalhos iniciados nos anos sessenta por outro casal (Gardner) para o qual a NASA cedeu a chimpanzé Washoe após que a agência espacial abandonou sua pesquisa com "chimponautas". Washoe foi introduzida em um ambiente humano onde só falavam a linguagem dos surdos-mudos. A primata aprendeu mais de uma centena de sinais somente vendo como a equipe se comunicava. Quando os Gardners decidiram cedê-la a um centro de Oklahoma, Roger não quis deixá-la sozinha naquele laboratório -onde poderia ser mal tratada e viveria em jaulas junto a seus congêneres aos quais ela própria chamava bichos negros- e conseguiu que a transladassem com ele para Washington para seguir pesquisando, até sua morte em 2007.
O casal de pesquisadores viu como Washoe transladou a linguagem a sua "família", Tatu, Dar e Loulis -uma filhote adotada que também aprendeu os sinais sem intervenção human- até níveis surpreendentes: chegavam a falar entre eles sozinhos enquanto "liam" uma revista, já que são capazes de dar nome no que veem nas fotos (bebida, comida, sorvete, sapatos...).
- "Falam como se fossem uma família; discutem, apaziguam. Quando Loulis roubava uma revista de Washoe, ela lhe amaldiçoava e dizia 'sujo'", explicou Deborah. Inclusive falam sobre o tempo, fazem composições poéticas e inventam novos sinais entre si.
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